O ex-presidente e atual senador paraguaio Fernando Lugo condenou neste domingo (02) os atos violentos que ocorreram na sexta-feira (31/03) em Assunção, quando manifestantes invadiram e atearam fogo no Congresso e foram reprimidos pela polícia, cuja ação acabou resultando na morte de um militante do Partido Liberal.
“A violência nunca foi um caminho de solução ante os problemas e as crises, por isso, mais do que nunca, temos que seguir apostando na paz e na participação de todos”, disse Lugo em mensagem em vídeo divulgada nas redes sociais da coalizão partidária Frente Guasú.
“Nem a violência estrutural, que gera exclusões, nem a violência como resposta a instituições públicas é solução, e menos ainda a violência gerada em muitos movimentos que, fazendo uso de seu legítimo direito ao protesto, passa dos limites da lei e da convivência pacífica”, prosseguiu o ex-presidente, que falou em espanhol e em guarani em seu comunicado.
Sem mencionar os atos da última semana ou o projeto de emenda constitucional para permitir a reeleição, foco da atual crise política no Paraguai, Lugo afirmou que “uma sociedade inclusiva, solidária, fraterna” só poderá ser realizada com a participação da cidadania em geral – uma aparente referência ao referendo pelo qual deverá passar o projeto de emenda que foi aprovado pelo Senado na sexta-feira (31/03).
“A democracia não se pode fazer somente com a participação de alguns poucos”, disse o ex-presidente e atual senador. “Que seja o grande soberano [o povo] que nos ensine, como nos ensinou em toda a história, o caminho, a luz depois do túnel, com sua participação”, afirmou.
Que sea el gran soberano que nos enseñe -como nos ha enseñado en toda la historia-,el camino, la luz despues del tunel;con su participación. pic.twitter.com/TAfmJEnyr1
— Fernando Lugo (@lugo_py) 3 de abril de 2017
Frente Guasú: ‘nenhum debate ou situação política deve ser mais importante que a vida de compatriotas’
Em comunicado divulgado no sábado (01), a Frente Guasú também repudiou a violência e “atos de vandalismo” de manifestantes e criticou as forças de segurança paraguaias e o presidente Horácio Cartes pela morte de Rodrigo Quintana, militante da juventude do Partido Liberal, na última sexta-feira (31/03).
“Chamamos todos os atores políticos e sociais a salvaguardar a vida e a segurança das pessoas acima de agendas políticas conjunturais. Nenhum debate ou situação política tem razão de ser mais importante do que a vida de compatriotas”, afirmou a coalizão de esquerda.
“Como organização política reivindicamos os métodos pacíficos de luta no exercício da política; neste sentido, repudiamos também os atos de vandalismo que se sucederam no marco do que deveria ter sido uma manifestação pacífica”, disse a Frente Guasú.
Ainda antes da proposta de uma mesa de diálogo com todos os partidos, colocada pelo presidente Cartes neste domingo (02), a Frente Guasú chamou todos os setores políticos do país a “um diálogo civilizado” e “a não seguir alimentando retóricas radicalizadas que gerem mais ódio e enfrentamentos entre paraguaios”. “Temos a convicção de que estas diferenças não podem ser resolvidas incendiando o Congresso Nacional, mas sim a partir da busca de formas por meio das quais todos os cidadãos possam participar dos temas centrais que concernem ao futuro de nosso país”.
Reeleição no Paraguai
O projeto de emenda constitucional, que deve passar por um referendo popular para ser efetivado, foi aprovado após uma mudança em artigos do regimento do Senado na terça-feira (28/03), que alterou a maioria necessária para que sejam aprovadas moções de ordem, de dois terços (30) para maioria absoluta (23) de senadores. Tal mudança também tirou o poder do presidente do Senado de não colocar à apreciação projetos ou comunicações e modificou o calendário de eleição da mesa diretora da Casa.
A emenda que autoriza a reeleição permite uma nova candidatura presidencial de Fernando Lugo, destituído em um golpe parlamentar em 2012 e hoje senador, e de Cartes, e tem apoio da Frente Guasú, coalizão partidária de Lugo, e do Partido Colorado, do atual presidente. Por outro lado, o Partido Liberal, o maior da oposição e líder das manifestações, além de outras forças opositoras, alegam que a emenda é anticonstitucional como meio de facultar um segundo mandato presidencial.
Uma pesquisa de intenção de voto para as eleições de 2018 no Paraguai publicada no começo de março pelo jornal Última Hora indica que Lugo tem 52,6% da preferência do eleitorado para a Presidência do país. Cartes, presidente desde agosto de 2013, apareceu em segundo lugar com 11,9%.
Publicado originalmente no Opera Mundi.
Edição: Opera Mundi