Transporte

Especialistas criticam política de fim dos cobradores imposta por Dória em SP

O desemprego da categoria e a falta de debate com a população são argumentos apontados

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A empresa Viação MobiBrasil está testando cinco veículos sem cobradores
A empresa Viação MobiBrasil está testando cinco veículos sem cobradores - Agência Brasil

Especialistas em transporte público e o sindicato dos condutores de São Paulo têm se posicionado contrários à circulação de ônibus municipais sem a presença de cobradores, política do prefeito João Dória (PSDB), que teve sua fase-teste iniciada no último sábado, dia 1°.

A empresa Viação MobiBrasil está testando a política em cinco veículos da linha Metrô Jabaquara - Terminal Santo Amaro. A Prefeitura de São Paulo autorizou o teste com a promessa de que não haja demissão de cobradores.

A garantia não conforta o Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo. Para seu presidente, Valdevan Noventa, o emprego dos cerca de 20 mil cobradores da cidade está em risco.

"Ele [o prefeito] não vai aumentar a frota, a gente sabe que o objetivo dele é diminuir a frota, então como vou promover um cobrador? Nós somos totalmente contra o projeto do Dória, até pela recessão do país, muitos pais de família vão passar fome, necessidade, e não são eles que vão acrescentar o número de desempregados na cidade, o sindicato vai lutar com todas as forças para manter o emprego deles", afirmou.

A proposta de Dória é que sejam aceitos apenas pagamentos com Bilhete Único. Uma das justificativas da ação é que, atualmente, apenas 6% dos passageiros do sistema municipal pagam as passagens com dinheiro.

O presidente do sindicato dos motoristas contesta o argumento. "A população de São Paulo tem hoje mais de 2 milhões de pessoas desempregadas que não têm bilhete e utilizam o transporte. Ela também recebe milhões de turistas todo o mês que não têm bilhete único", disse.

Questionada a respeito, a Secretaria de Mobilidade e Transportes da Prefeitura de São Paulo (SPTrans) afirmou, por e-mail, que “o transporte desses passageiros está garantido, já que as viagens de ônibus sem cobrador serão alternadas”.

Por outro lado, o ex-secretário dos transportes do governo de Luiza Erundina e autor do projeto de Tarifa Zero, Lúcio Gregori, ressalta que, "quando você paga uma tarifa, uma parte dela é para pagar o cobrador. Se você tem formas de diminuir a despesa, pode diminuir a tarifa. Ele está fazendo uma medida de maneira bastante violenta, sem discussão prévia e debate na sociedade com os usuários".

Gestões anteriores já tentaram acabar com a função do cobrador em São Paulo, mas desistiram após pressão da categoria. Em outras cidades brasileiras, como Sorocaba, São Bernardo do Campo e Curitiba, a ação já foi implementada. Na capital paranaense, desde 2014 os passageiros usam exclusivamente o bilhete para embarque e boa parte dos cobradores campineiros saíram do sistema por meio de um plano de demissão voluntária.

Edição: Vanessa Martina Silva