FEMINICÍDIO

Mais uma mulher é assassinada de forma brutal no Recife

Vítima sofreu violência sexual e tortura

Recife (PE) |
Audiência de custódia do suspeito aconteceu sob protesto de familiares e amigos
Audiência de custódia do suspeito aconteceu sob protesto de familiares e amigos - Dilvugação

Todo dia, cerca de 13 mulheres são mortas vítimas de feminicídio no Brasil. Nosso país ocupa o quinto lugar no ranking de assassinatos femininos no planeta. A maioria das vítimas tem entre 15 e 29 anos e a maioria dos autores do crime são homens próximos (cônjuges, amigos, parentes, vizinhos). Na manhã da quarta-feira (05), mais uma morte, nestes moldes, aconteceu no Recife.
Por volta das 7h da manhã, moradores de um prédio localizado no bairro de Boa Viagem, Zona Sul da capital pernambucana, ouviram gritos de socorro vindos de um apartamento no 12° andar. Eram de Mirella Sena, fisioterapeuta, 28 anos, moradora do prédio há quatro meses. O porteiro acionou a polícia, que minutos depois chegou ao local do crime, encontrado Mirella morta, despida no chão do seu apartamento, com um corte de faca na parte frontal do pescoço. O principal suspeito é o vizinho da vítima, Edvan Silva, que é comerciante.
Em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (06), o delegado responsável pelo caso, Francisco Océlio, e o chefe da Polícia Civil, Joselito Kherler do Amaral, deram detalhes do crime. Ambos afirmam que todos os indícios encontrados apontam para que Edvan seja mesmo o autor do crime. No período da tarde, em outra coletiva de imprensa, a gestora da Polícia Científica Sandra Santos informou que os exames de DNA comprovaram que a pele encontrada nas unhas de Mirella Sena são de Edvan Silva e que as mostras de sangue coletadas no apartamento do suspeito são mesmo da vítima.
O delegado Francisco Océlito afirma se tratar de um crime de feminicídio. Ele relata que há sinais de abuso sexual e que a vítima morreu por esgorjamento (facada na parte frontal do pescoço). "Ela lutou bastante, pois temos indícios de cabelos dele nas mãos dela. Há também lesões nas mãos, indicando que ela tentou segurar a lâmina da faca. Ela lutou bastante até a hora em que foi assassinada”, afirmou o delegado.
No começo da tarde desta quinta, familiares e amigos marcaram protesto em frente ao Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra, onde aconteceu a audiência de custódia do suspeito. A juíza Blanche Maymome decidiu pela prisão preventiva. Edvan foi encaminhado para o Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Edvardo Luna (Cotel), onde aguardará o julgamento.

Em nota de protesto, a família e os amigos afirmam: “Sabemos, lamentavelmente, que esse não é um caso isolado, pois todos os dias mulheres são vítimas de feminicídio. Mulheres da periferia, mulheres negras, mulheres mães, mulheres lésbicas, mulheres trans, mulheres [...] Não existe crime passional. O que existe aqui é um caso de feminicídio! Mas o que não podemos esquecer é que queremos justiça. O assassinato de Mirella não pode ficar impune. Precisamos de forma veemente evitar que mais uma Mirella, Maria ou outra, seja morta dessa forma tão brutal”.
A advogada Jackeline Florêncio explica o que é o feminicídio: “é o assassinato da mulher pela condição de ser mulher. No bojo do crime, tem esse aspecto de gênero, muitas vezes de ódio. Hoje, no Brasil, inclusive, o feminicídio é considerado crime hediondo. O feminicídio é o ápice de controle do homem sobre a mulher. É o controle da vida e o controle da morte. Porque é como se a posse que ele acha que tem, desse o direito inclusive de retirar a vida dela”.
O enterro de Mirella Sena aconteceu também nesta quinta-feira, sob forte comoção e com pedidos de justiça feitos publicamente pela mãe, tia e amigos.

Edição: Monyse Ravenna