Cinema de fonteira

Festival Internacional de cinema mostra a resistência dos povos da Amazônia

Serão exibidos documentários sobre as diversas realidade da região em nove cidades do estado até dia 16/04

Brasil de Fato | Belém (PA) |
Imagem do filme Iracema, uma transa amazônica de Jorge Bodanzky, cineasta homenageado pelo festival
Imagem do filme Iracema, uma transa amazônica de Jorge Bodanzky, cineasta homenageado pelo festival - Festbrasilia / Divugalção

A luta e a resistência de indígenas, quilombolas, camponeses, mulheres e juventude frente aos grandes projetos na Amazônia ganham o cinema como aliado. Nesta quarta-feira (12) foi realizada a abertura do 3º Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira (Fia-Cinefront).

O lançamento ocorreu nas cidades de Belém e Marabá e contará com uma programação intensa em várias cidades do estado até o dia 16 de abril. Marabá, Xinguara, Rondo do Pará, Santana do Araguaia, São Felix do Xingusão serão as cidades por onde haverá amostras de filmes narrando a realidade, conflito e experiências de personagens que vivem na Amazônia. Haverá também exibição de filmes na Aldeia Indígena Mãe Maria, situada em Bom Jesus do Tocantins, distante 30 km de Marabá, e no Acampamento Juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Eldorado dos Carajás.

Em sessão internacional o festival contará com apresentações nas cidades de Lima e Tarapoto, no Peru, com amostras de filmes do diretor homenageado Jorge Bodanzky, e produções locais dos estudantes da pós-graduação da Pontificia Universida Católica del Perú (PUCP).

Evandro Medeiros, coordenador do evento, informa que a concepção de fronteira se dá nas regiões por onde houve – e ainda há – a implementação de políticas desenvolvimentistas para a Amazônia, iniciadas no período da Ditadura Militar com projetos de abertura de estradas, como a Transamazônica, projetos de mineração e construções de hidrelétricas, fazendo com que a região e os povos que nela vivem passassem a fazer parte do front de batalha e enredos para narrativas de vídeos documentários.  

“Essas regiões vem sendo ao mesmo tempo objetos de vídeos documentários no cinema, documentário produzido por vários diretores nacionais e internacionais. Há uma produção de documentários que retratam essas realidades, impactadas por esses empreendimentos e suas consequências”, analisa Medeiros.

Reexistência

Cineasta Jorge Bodanzky, diretor de "Iracema, uma transa amazônica" e "Igreja dos oprimidos"

Com o tema O nosso cinema é de reexistência, o grande homenageado do evento será o cineasta Jorge Bodanzky, diretor de obras clássicas como Iracema, uma transa amazônica [1974] e Igreja dos oprimidos [1985], dois filmes que exprimem a ideia sobre o que é o cinema de fronteira, como argumenta Medeiros.

“O cinema de fronteira é um cinema para onde se quer retratar a realidade, para onde avança esses empreendimentos capitalistas e relata a resistência dos povos que vivem nesses lugares. A fronteira encarada como front de batalha. É daí que nasce essa ideia de tematizar essas regiões”, explica.

O primeiro filme de Bodanzky foi censurado pela Ditadura Militar e narra, a partir de uma mistura de documentário e drama ficcional, as realidades vividas por pessoas que se encontram no meio do processo de abertura da rodovia Transamazônica. Já o segundo conta a história de atuação da Igreja Católica e religiosos ligados a Teologia da Libertação, auxiliando o movimento sindical e trabalhadores rurais na luta pela terra na região de Conceição do Araguaia.

Acampamento Juventude MST e C'nefront

Ainda segundo Medeiros, o Fia- Cinefront 2017 também tem como objetivo “manter viva a memória de luta desses povos da fronteira”. Para isso, o festival articula as programações com as atividades do Jornada de Lutas do MST no mês de abril, que ocorre sempre as vésperas do massacre de Eldorado dos Carajás. O episódio marcou a história da região quando, no dia 17 de abril de 1996, 21 trabalhadores rurais foram assassinados pela Polícia Militar do Pará fortemente armados.

Desde sua primeira edição, a programação do festival integra atividades com exibição de filmes na programação do Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra – Oziel Alves Pereira, que este ano chega a sua 12ª edição.

O acampamento leva o nome do mais jovem militante assassinado no dia do massacre, Oziel, na época tinha 17 anos. Nieves Rodrigues, militante do MST em Marabá relata que o acampamento é uma homenagem a luta do jovem que desejava a reforma agrária.

Ela conta que os filmes exibidos no acampamento irão tratar, além da luta pela terra, a questão das drogas, mas o objetivo é que os jovens possam encontrar na cultura uma forma de luta.     

“Como o cinema é de resistência, ele vai trazer a questão da luta pela terra, além de temáticas como a questão das drogas. Ele [Cinefront 2017] vem trazendo esse diálogo com a juventude sem terra, para que os jovens também se enxerguem dentro desse processo de resistência. Uma alternativa para isso pode ser a arte, o cinema, a música e tantas outras formas”, afirma

Programação:

Marabá

Quinta, 13/04

Auditório Unifesspa – Universidade do Sul e Sudeste do Pará, 9h

Filmes Prêmio Proex – “Aquém Margens” [Diretora: Alexandra Duarte]

Debate: “Imagem, Memória e Produção Acadêmica na Fronteira Amazônica” [Idelma Santiago, Joseline Trindade – Unifesspa]

Auditório Unifesspa, 14h

"Isso Muda Tudo" [Diretor: Avi Lewis]

Debate: “Cinema de Fronteira e Reexistência Social, Política e Cultural” [Evandro Medeiros e Felipe Milanez – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB]

Cine Marrocos, 19h

“Igreja dos Oprimidos” e “No meio do rio, entre as árvores” [Diretor: Jorge Bodanzky]

Debate: “A luta pela terra na Fronteira Amazônica” [Charles Trocate - MAN, Airton Pereira – Universidade Estadual do Pará – UEPa]

Sexta, 14/04

Auditório Unifesspa, 14h

Filmes Prêmio Proex - “Cine Ideal”[Diretor: Ricardo Almeida]

Debate: “Fomento Cultural e Cinema Paraense” [Felipe Pamplona / FCP]

Cine Marrocos, 19h

“Iracema, uma transa amazônica” [Diretor: Jorge Bodanzky]

Debate e Homenagem ao Diretor:  “A obra de Bodansky e a Amazônia” [Jorge Bodansky e Felipe Pamplona]

Sábado, 15/04

Auditório Unifesspa, 14h

“Branco Sai, Preto Fica” [Diretor: Adirley Queirós]

«Isso Muda Tudo" [Diretor: Avi Lewis]

Cine Marrocos, 19h

"Através"- Diretores: André Michiles, Diogo Martins, Fábio Bardella

Debate: “Olhares sobre a Reexistência Cubana” [Fernando Michelotti - Unifesspa, Ayala Ferreira - MST]

Domingo, 16/04

Praça São Félix de Valois, 19h

Filmes Prêmio Proex: “Aquém Margens” [Diretora: Alexandra Duarte] e “Cine Ideal” [Diretor: Ricardo Almeida]

Quarta, 19/04

Cine SESC, 18h

Filmes Prêmio Proex: “No meio do rio, entre as árvores” [Diretor: Jorge Bodanzky]

Quinta, 20/04

Cine SESC, 18h

“Iracema, uma transa amazônica” [Diretor: Jorge Bodanzky]

Avaliação do FIA CINEFRONT em Marabá

 

Aldeia Gavião Reserva Mãe Maria

Quinta, 13/04

Filmes Prêmio Proex: “No meio do rio, entre as árvores” [Diretor: Jorge Bodanzky]

Debate: “Cinema e Lutas Indígenas” Jorge Bodanzky e Felipe Milanez

 

Lima - Peru [12 a 16/04]

Pontificia Universidad Católica del Perú (PUCP)

“Iracema, uma transa amazônica” 

“No meio do rio, entre as árvores”

[Diretor: Jorge Bodanzky]

Mostra de Filmes dos Alunos do Mestrado em Antropologia Visual da PUCP

 

Tarapoto - Peru [12 a 16/04]

Universidad de San Martín

“Iracema, uma transa amazônica” 

“No meio do rio, entre as árvores”

[Diretor: Jorge Bodanzky]

Mostra de Filmes Curuwinsi Cine

 

Eldorado dos Carajás - Acampamento da Juventude MST

Quinta, 13/04, 19h

"A Pedra Mágica do Homem Invísivel" [Diretor: Marcos Fé] e "Branco Sai, Preto Fica" [Diretor: Adirley Queirós]

Sexta, 14/04, 19h

"Isso Muda Tudo" [Diretor: Avi Lewis]

Sábado, 15/04, 19h

“Igreja dos Oprimidos” [Diretor: Jorge Bodanzky]

Debate e Homenagem ao Diretor: “Cinema e a luta pela terra na Fronteira Amazônica” [Jorge Bodanzky e Airton Pereira - UEPa]

 

São Félix do Xingu - Terça, 18/04

Campus Unifespa, 18h

Filmes Prêmio Proex: “Igreja dos Oprimidos” e “Iracema, uma transa amazônica”  [Diretor: Jorge Bodanzky]

 

Rondon do Pará - Quarta, 19/04

Campus Unifespa, 18h

“Cine Ideal”[Diretor: Ricardo Almeida] e “Igreja dos Oprimidos” e “Iracema, uma transa amazônica”  [Diretor: Jorge Bodanzky]

 

Santana do Araguaia - Quinta, 20/04

Campus Unifespa, 18h

Filmes Prêmio Proex: “Igreja dos Oprimidos” e “Iracema, uma transa amazônica” 

[Diretor: Jorge Bodanzky]

Xinguara - Quinta, 20/04

Campus Unifespa, 18h

Filmes Prêmio Proex: “Igreja dos Oprimidos” e “Iracema, uma transa amazônica”  

[Diretor: Jorge Bodanzky]

Edição: Luiz Felipe Albuquerque