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Mais um exemplo gritante de antijornalismo na televisão

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No Roda Viva, Rogério Marinho, do PSDB, iludia os incautos para “explicar” a reforma trabalhista da qual é relator
No Roda Viva, Rogério Marinho, do PSDB, iludia os incautos para “explicar” a reforma trabalhista da qual é relator - Antonio Cruz/Arquivo/Agência Brasil
O que está acontecendo neste momento no Brasil é um retrocesso a olhos vistos

Na última segunda-feira (17), telespectadores que sintonizaram o programa Roda Viva, na TV Cultura, assistiram entrevista com o deputado Rogério Marinho, do PSDB do Rio Grande do Norte, que iludia os incautos para “explicar” a reforma trabalhista da qual é relator. O que se pode esperar de um tucano, provavelmente eleito com o apoio do poder econômico?

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Foi uma demonstração inequívoca de que mais uma entrevista obedeceu ao gênero convescote em que os entrevistadores de um modo geral levantam a bola para o entrevistado reforçar seus posicionamentos.

Um dos entrevistadores, o juiz do trabalho de São Paulo, Luis Sotto Maior ainda tentou fazer colocações questionadoras, mas foi visivelmente brecado pelo condutor do Roda Viva, Augusto Nunes. Esse jornalista nem sequer tentou disfarçar e toda vez que Sotto Maior desenvolvia seu raciocínio era brecado.

Teve vezes inclusive que até um dos entrevistadores escalado, Gaudêncio Torquato, por sinal muito ligado ao presidente ilegítimo, Michel Temer, era chamado para encurralar Sotto Maior. Gaudêncio também toda vez que fazia perguntas colocava posições em defesa dos patrões contra os trabalhadores. Não disfarçava sua posição contra o Estado.

Esses comentários são importantes de assinalar para entender melhor o que acontece na televisão brasileira, de um modo geral para que a opinião pública, apoie integralmente o retrocesso que os aliados de Temer estão promovendo no Brasil. E toda vez que se questiona esse esquema midiático, vozes conservadoras se levantam para acusar os questionadores de promoverem ações atentatórias à liberdade de imprensa. Algumas vezes chegam a convocar a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) para reforçar o posicionamento pretensamente defensor da liberdade de imprensa, mas na realidade defensor da liberdade de empresa.

O que está acontecendo neste momento no Brasil é um retrocesso a olhos vistos e já se reflete nos índices das pesquisas sobre a aceitação de Temer. As últimas medições indicam que aceitação de Temer é de 5%. A continuar dessa forma, em breve o usurpador terá até índices mais inferiores.

Não é à toa que Temer está a conceder entrevistas consecutivas para vários canais de televisão. Mas por mais que apresente as suas versões, a própria presença de Temer não compõe com o que está falando. Em outras palavras, Temer não convence e a sua figura tentando ser didático até ajuda a deixar claro que mente de forma muitas vezes descarada.

Embora afirme que não está preocupado com o meliante Eduardo Cunha, toda a vez que surge esse nome na pauta fica visível o constrangimento do presidente não eleito. Chegou a tal ponto que o próprio Temer deixou claro que ao aceitar a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o então presidente da Câmara dos Deputados o fez por vingança, depois que três parlamentares do PT decidiram votar contra Cunha, o que resultou, após um longo e tenebroso inverno, na cassação do seu mandato e posteriormente em sua condenação de 15 anos e quatro meses ao ser julgado por parte dos delitos cometidos.

O que o golpista Temer falou em uma de suas entrevistas está a servir ao defensor de Dilma Rousseff, o advogado Luis Eduardo Cardoso, a ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar o impeachment.

No mais, a cada dia que passa fica mais claro que o Poder Legislativo representa não a vontade dos eleitores, mas sim a dos empresários financiadores de campanhas eleitorais. Isso para não falar que os financiadores não pregam prego sem estopa, ou seja, não bancaram campanhas sem mais nem menos, mas em troca de favores, devidamente compensados.

Por estas e muitas outras que haverão de surgir é que se pode afirmar, sem sombra de dúvida, que o atual Congresso não tem condições morais para votar reformas como as da previdência ou a trabalhista relatada por Rogério Marinho, que pode não ser da mesma família global, mas age em conformidade com o que defende as Organizações Globo.

* Mário Augusto Jakobskind é jornalista, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato no Rio de Janeiro, escritor e autor, entre outros livros, de Parla - As entrevistas que ainda não foram feitas; Cuba, apesar do Bloqueio; Líbia - Barrados na Fronteira e Iugoslávia - Laboratório de uma nova ordem mundial.

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