Gênero

Mulheres negras repudiam "apadrinhamento" de Temer proposto por Ministra

Coletivos auto-organizados discordam da fala de Luislinda Valois e reafirmam luta pela retomada da democracia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Marcha das Mulheres Negras na Esplanada dos Ministérios, em novembro de 2015
Marcha das Mulheres Negras na Esplanada dos Ministérios, em novembro de 2015 - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Durante uma cerimônia ocorrida em Brasília, no último dia 12 de abril, a atual ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, concedeu ao presidente golpista, Michel Temer, a denominação de "padrinho das mulheres negras brasileiras".

A fala da ministra foi registrada em vídeo e rapidamente se espalhou via WhatsApp. Além do trecho polêmico, Valois ainda pede para Temer não mudar. "Presidente, não mude, continue. Nós mulheres precisamos muito do senhor. Lhe peço: fique conosco, nos dê apoio...", afirma no discurso.

Diversas organizações e militantes da comunidade negra se manifestaram repudiando as declarações. 

Valois chegou ao governo depois de Temer receber duras críticas por ter formado um ministério masculino e branco. A ex-ministra da Igualdade Racial e do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos da presidenta Dilma Rousseff, Nilma Lino Gomes, escreveu um artigo sobre o episódio e ressaltou que não se trata de desconsiderar a trajetória da ministra e sua história como mulher negra no "seleto misógino, machista e racista campo jurídico".

"Trata-se de afirmar que o pensamento, a postura política e ideologia que a fazem acreditar que nós, mulheres negras, precisamos de um padrinho —  diga-se de passagem um homem branco e golpista — , não nos representa", defendeu Gomes.

A ex-ministra relembrou ainda que é sintomático que essa fala venha um ano após o golpe parlamentar que teve, segundo ela, forte aspecto de classe, raça e gênero: "Nós, mulheres negras brasileiras, lutamos pela retomada da democracia", disse.

Em nota, a Marcha de Mulheres Negras de São Paulo diz também não reconhecer qualquer apadrinhamento do presidente. "Os ataques que Michel Temer tem feito desde que assumiu a presidência nos atingem diretamente. Luislinda deveria ter lembrado disso ao colocar em nossas bocas e em nossos nomes posição que não reivindicamos", traz o texto.

Beatriz Lourenço do Nascimento, militante da Consulta Popular e integrante da Marcha das Mulheres Negras, afirmou que relegar a luta das mulheres negras a qualquer apadrinhamento é uma "irresponsabilidade".

"Dizer que Michel Temer não nos representa não se encerra na figura dele enquanto homem branco e rico, mas também porque a política dele ataca frontalmente as mulheres negras brasileiras", afirma Lourenço, citando as reformas trabalhistas e da Previdência.

Também se manifestaram contrárias à fala da ministra outras entidades como a Coordenação Nacional de Gênero do Coletivo de Entidades Negras, o Coletivo de Mulheres da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e o Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem).

Edição: Vanessa Martina Silva