Palestina

Ativista denuncia péssimas condições de palestinos encarcerados por Israel

Cerca de 1500 pessoas mantêm greve de fome iniciada há cinco dias para reivindicar melhores condições no cárcere

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Mural em homenagem aos prisioneiros palestinos
Mural em homenagem aos prisioneiros palestinos - Reprodução

O palestino Badee Dwaik, integrante da organização Human Rights Defenders in Palestine (Defesa dos Direitos Humanos na Palestina, em tradução livre), conversou com o Brasil de Fato sobre a greve de fome de pessoas privadas de liberdade pelas Forças Armadas Israelenses. O protesto entra em seu quinto dia e conta com cerca de 1500 adeptos. Dwaik conta que as condições das prisões onde ficam os palestinos “são nojentas, as piores possíveis”.

Ativista pelos direitos dos palestinos há décadas, Dwaik já foi preso 13 vezes pela ocupação israelense, sendo que a última detenção, da qual foi liberado há alguns dias, foi realizada em regime administrativo – procedimento que permite o encarceramento de palestinos sem acusação ou julgamento. Ele conta que já participou de greves de fome no passado e que a atitude "é uma das decisões mais difíceis que um prisioneiro pode tomar".

De acordo com Dwaik, essa é a maior manifestação do tipo já realizada e representa uma ameaça ao regime prisional israelense. "O que víamos antes eram muitas greves de fome individuais entre os palestinos, mas dessa vez é diferente”. Ele ressalta ainda que caso a mobilização aumente, “os israelenses terão que aceitar as demandas. Aqui fora há muitas mobilizações, que não são dirigidas por um partido, mas todos os partidos palestinos e população estão se envolvendo e se solidarizando fora da prisão", afirmou.

Entre as demandas dos palestinos encarcerados está um maior tempo de visita familiar; melhores condições de higiene e tratamento dentro das prisões; o fechamento do Hospital Prisional de Ramla, por não oferecer tratamentos adequados; o fim da política israelense de negligência médica e o fim da política de detenções administrativas.

O início da greve se deu na prisão de Hadarim, onde o líder da organização Fatah cumpre há 13 anos sentenças de prisão perpétua. A detenção é considerada ilegal e ilegítima por diversas organizações. A mobilização teve início no dia 17 de abril, data que marca o Dia dos Prisioneiros Palestinos. Segundo dados da organização pelos direitos humanos dos palestinos encarcerados, ADDAMEER, existem atualmente mais de 6.500 palestinos em prisões israelenses, sendo 300 menores de idade e 500 em detenção administrativa.

Confira a entrevista na íntegra:

Quais são as demandas da greve?

Há muitas demandas. Algumas são especificamente pedidos de liberdade, outras por direitos dentro das prisões. Também estão pedindo mais visitas familiares, para permitir que os prisioneiros encontrem as famílias duas vezes por mês. Há muitas demandas sobre expandir o tempo de visita das famílias de 45 minutos para 1h30. Mas, na verdade, a principal demanda, que já é pautada há muito tempo, é o fim das prisões administrativas.

Você pode nos explicar o que são as prisões administrativas na Palestina ocupada? Temos o dado de que um em cada quatro homens palestinos já foi detido e em grande parte pelo regime administrativo.

Sim, eu já fui preso muitas vezes e estava preso até alguns dias atrás. Fui preso no final de março e liberado nesta semana. Eu já havia sido preso muitas vezes, mas essa é a primeira vez que fui preso administrativamente. Nas prisões administrativas, as denúncias e o processo são secretos. Geralmente eles te prendem por cerca de seis meses e nas últimas horas da sua sentença, renovam por mais seis meses. Então, você fica preso por muito tempo e não sabe quando vai ser solto e livre. Essa é a prisão administrativa, que teve início no Mandato Britânico [1922-1923]. Há alguns países onde eles usam esse sistema, em que ele não é ilegal. Mas na maioria dos países é ilegal, porque os prisioneiros devem ter o direito a um julgamento e de saber porque foram presos. Nessa situação eles te prendem sem nenhuma denúncia e tudo é confidencial.

Como é o tratamento dispensado pelas Forças Armadas Israelenses nas prisões?

Já me prenderam por afirmarem que eu estava por trás da organização de manifestações ilegais, sendo que nem era uma manifestação, nós estávamos plantando oliveiras em uma assentamento israelense ilegal na Palestina, e estávamos deixando os colonos judeus irritados. Fomos quatro palestinos presos e nos condenaram com diferentes acusações: desrespeito das ordens do comandante, perturbação da ordem e roubo de soldados. Eu tenho problemas de saúde, diabetes, e quando eu pedi acesso aos meus remédios, eles me negaram. Me mandaram para um centro de detenção e os soldados tentaram me forçar a tirar todas as minhas roupas, incluindo as roupas de baixo, eu recusei, então me forçaram a ficar de costas contra a parede, abrir as pernas, e ficar abaixado. Me puniram porque eu estava lutando pela minha dignidade. Não me deram o remédio, por mais que eu protestasse. As condições da prisão são nojentas, as piores possíveis, eles te dão sobras dos alimentos dos militares, você não tem colchões e dorme no cimento. Os cobertores já foram usados milhares de vezes e possuem várias doenças, porque não são limpos. Eles também não te deixam tomar banho.

Você já presenciou alguma greve de fome?

Eu já participei, mas não dessa vez, antes. A greve de fome é uma das decisões mais difíceis que os prisioneiros podem tomar.

Você acredita que desta vez Israel irá ceder às demandas dos palestinos encarcerados?

Os israelenses já estão agindo contra os prisioneiros em greve, estão mudando eles de prisões, isolando-os dos outros prisioneiros. Essa é a forma como eles tentam quebrar a greve, porque eles estão considerando essa uma grande mobilização. É a primeira vez que tantos palestinos se juntam em uma greve de fome, o que víamos antes eram muitas greves de fome individuais entre os palestinos, mas dessa vez é diferente e pode ser grande. O número poderá aumentar muito. Se for o caso, os israelenses terão que aceitar as demandas. Aqui fora há muitas mobilizações, que não são dirigidas por um partido, todos os partidos palestinos e população estão se envolvendo e se solidarizando fora da prisão. Nós protestamos em muitas cidades da Cisjordânia, esta semana houve uma grande marcha com milhares de palestinos pela causa dos prisioneiros palestinos. É verdade que não é fácil para os prisioneiros manter a greve, mas ao mesmo tempo, isso é uma situação que está unindo os palestinos em torno dos prisioneiros, e por isso há tanto apoio.

Edição: Vanessa Martina Silva