Violência

Facção queima ônibus, ataca bancos e delegacias em Fortaleza

Cartas do grupo "Guardiões do Estado" denunciam suposta aliança das direções de presídios com outras facções

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Ônibus queimado em Fortaleza (CE)
Ônibus queimado em Fortaleza (CE) - Reprodução/ Twitter

Pelo menos 19 ônibus foram incendiados desde quarta-feira (19), na cidade de Fortaleza e na Região Metropolitana. Carros da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e da empresa elétrica Enel foram metralhados e queimados. Três delegacias e dois bancos foram atacadas a tiros.

Nos locais dos ataques, foram deixadas cartas assinadas pela facção Guardiões do Estado (GDE 745). O número 745 faz menção à posição no alfabeto das letras que formam o nome da Facção. A carta também circula nas redes sociais e serviços de mensagens como WhatsApp.

No texto, os supostos integrantes da GDE ameaçam parar o Ceará e explodir a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS). Chamam o governo de corrupto e ameaçam funcionários e prédios públicos. A exigência é a transferência dos integrantes da facção da casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II), localizada em Itaitinga, município distante 38 quilômetros de Fortaleza, para outros presídios.

Na carta, também há algo mais grave: os autores insinuam que duas outras facções: o Comando Vermelho (CV) e a Família do Norte (FDN) estão “colando”com a direção dos presídios. Na gíria do crime, “colar” significa ter parceria, fazer aliança.

Em entrevista ao Portal Tribuna do Ceará, o presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará (Copen-CE), Cláudio Justa, afirma que os ataques podem ser uma declaração de guerra entre as três facções (GDE, CV e FDN). Segundo ele, já houve confrontos na CPPL II e na CPPL IV entre detentos e os integrantes do Comando Vermelho estariam sendo expulsos destes presídios devido a uma aliança entre a GDE e o Primeiro Comando da Capital (PCC).

As declarações do presidente do Copen-CE não combinam com as cartas deixadas nos locais dos ataques.

Na quarta-feira (19), após os primeiros ônibus serem queimados, os empresários de ônibus mandaram recolher os veículos às garagens, deixando a população sem ter como retornar para casa. Transportes alternativos, inclusive o Uber, inflacionaram preços dos serviços. Faculdades suspenderam as aulas no turno da noite na quarta (20).

Conforme as cartas, os ataques vão continuar até que os detentos sejam transferidos da CPPL II, que já foi interditada para a entrada de novas pessoas em situação de privação de liberdade em abril do ano passado pelo juiz corregedor de presídios da Comarca de Fortaleza, Cézar Belmino Barbosa Evangelista. O motivo foi a enorme quantidade de detentos e a falta de condições do presídio para abrigá-los.

Circulam também no WhatsApp áudios de supostos faccionários denunciando torturas nos presídios e pedindo que ônibus e delegacias sejam atacados.

Os ataques continuaram nesta quinta-feira (21) e Fortaleza seguem em clima de incerteza. Até o momento, seis pessoas foram detidas, acusadas de participação nos ataques e há relutância por parte da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) em admitir que os mesmos foram ordenados de dentro dos presídios e envolvem facções. O titular da SSPDS, André Costa, descartou de imediato o pedido de ajuda a tropas federais.

Já segundo a secretária da Justiça e Cidadania, Socorro França, na quarta-feira (19), 360 pessoas detidas foram transferidas da CPPL II para outros presídios e essas transferências teriam ocorrido a pedido dos próprios detentos. Esta declaração também contradiz o teor das cartas deixadas nos locais dos ataques e o fato dos mesmos continuarem.

Edição: Vanessa Martina Silva