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Os tempos difíceis deste 1° de maio

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Data é celebrada em cerca de 80 países no mundo
Data é celebrada em cerca de 80 países no mundo - Arquivo Agência Brasil
Esta data é de festa, mas também de luta

Como vai ser esse 1° de maio que está chegando?

Bom, esta data é de festa, mas também de luta, não é para ir a um grande show patrocinado por empreiteiras, em que as pessoas não vão por vontade de se manifestar, mas sim de ganhar um dos carros sorteados aos presentes.

Pelo jeito, não teremos festa assim este ano.

Mas de qualquer forma são tempos difíceis, ameaçadores para a classe trabalhadora. Temos muitos motivos para protestar.

Lembro-me da primeira vez que tive conhecimento da importância dessa data. Eu tinha 16 anos e cheguei para morar em São Paulo, um ano antes do golpe de 64.

No supermercado em que fui trabalhar, tinha um sujeito que tentava organizar os trabalhadores, e conseguia em parte. Ele não largava o livrinho do Manifesto Comunista e por isso tinha o apelido de Tião Livrinho.

Em 1964, o Tião teve que desaparecer para não ser preso.

Muitos anos depois eu o reencontrei, e ele estava vivendo de consertar máquinas de escrever, coisa que quase não existe mais.

Uma tarde fui levar uma máquina à casa dele, na periferia de São Paulo.

Era longe, e eu tinha um fusquinha velho, bem velho, que quebrava com frequência. O piso do fusca estava podre tinha um buraco embaixo dos meus pés. Tinha que dirigir com o maior cuidado.

Fui torcendo pro carro não quebrar, e cheguei numa boa. Ufa!

Bati palmas e fui atendido pela mulher dele, de mãos dadas com uma menininha toda bonitinha.

— Uai, Laíde, o que você e o Tião andaram fazendo? — perguntei gozando.

— É filha da vizinha. Ela trabalha à tarde e a menina fica comigo, que folgo neste horário.

Falei que estava com uma máquina pro Tião consertar, ela veio até o carro puxando a menina, que tinha dois anos de idade, segundo me disse. Ela e o Tião estavam fazendo a cabeça da garota desde já.

Enquanto eu pegava a máquina dentro do fusca esbodegado, a Laíde fazia uma espécie de “prova” sobre a politização da pivetinha:

— Olha, bem, ele tem carro. O que ele é?

Buguês... Buguês... — respondeu a menina ainda sem saber falar direito.

— E você... o que você é?

Opeiaia... Opeiaia...    

O rosto da Laíde se iluminou, e eu caí na risada sendo chamado de burguês pela pequena “operária”, por ter um fusquinha caindo os pedaços, que troquei um mês depois por cinco caixas de cerveja.

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