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Quem nunca pensou: “E se eu ganhasse na loteria?”

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Escritor Mouzar Benedito conta ‘causos’ da famosa pergunta sobre loteria que já rondou o imaginário de muita gente
Escritor Mouzar Benedito conta ‘causos’ da famosa pergunta sobre loteria que já rondou o imaginário de muita gente - Arquivo Agência Brasil
É quase sempre um festival de mesmice: comprar uma casa, ajudar parentes

Você está desempregado? Se não está, com certeza algum parente ou amigo está a perigo, procurando emprego.

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Alguns só veem um jeito de sair da pindaíba: ganhar na loteria. Mas e dinheiro pra jogar?

Bom... Deixa-se de comprar o leite das crianças, como se diz, para arriscar a sorte.

De vez em quando vejo pessoas falando sobre o que fariam se ganhassem uma boa grana na loteria.

É quase sempre um festival de mesmice: comprar uma casa, ajudar parentes... E tem também uma resposta natural do nosso tempo de culto ao automóvel: comprar um carro para o filho. Poucos falam em aproveitar a vida, viajar. 

Para as pessoas mais novas, parece que essas loterias todas sempre existiram, mas não era assim. Só existiam a loteria federal e algumas estaduais, que davam prêmios fixos, não tão grandes como os de hoje. Aí apareceu a loteria esportiva, pioneira na jogatina desvairada atual. 

Algumas pessoas ganharam prêmios acumulados, uma grana e tanto, e isso estimulava as pessoas a jogarem mais.

E as pessoas sonhavam com o que fariam se ganhassem. Uma noite, tomando cerveja com amigos, surgiu o assunto besta e recorrente: o que você faria se ganhasse sozinho na loteria esportiva?

Uns faziam elucubrações mirabolantes; outros falavam de projetos grandiosos, afinal todos nós vivíamos apertados. Aí chegou a vez do Heitor contar o que faria com o prêmio. Casado com a Teresa, todo certinho, ele começou:

— Primeira coisa: compraria um apartamento em Perdizes.

Provocou indignação:

— Ô, classe média! 

— Segunda coisa: compraria um carro zero quilômetro.

De novo, ouviu vaias e gritos de “Ô, classe média”.

— Terceira coisa: compraria uma butique numa galeria da rua Augusta, que desse renda líquida equivalente a uns dois mil dólares por mês.

Um detalhe aí: naquele tempo não tinha shoppings, o lugar de compras de gente metida a besta eram as galerias da rua Augusta. 

Bom, depois de falar da compra da butique e levar vaia mais uma vez, ele respirou fundo e falou:

— Então dava tudo isso pra Teresa e me mandava pra cair na gandaia.

— Eeeebbbbaaaa! — enfim foi aplaudido com entusiasmo.

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