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Feira do MST atrai 170 mil pessoas na capital paulista

Foram comercializadas 280 toneladas de alimentos em quatro dias da 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Em 2015, foram 150 mil pessoas que visitaram a feira
Em 2015, foram 150 mil pessoas que visitaram a feira - Rica Retamal

Nos últimos quatro dias, 170 mil pessoas passaram pela 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo (SP), que se encerrou neste domingo (7). De acordo com a estimativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizador do evento, a feira este ano superou o sucesso de 2015, quando 150 mil visitantes passaram pela primeira edição da atividade. 

Antonia Ivoneide Melo Silva, dirigente nacional e integrante do setor de produção do MST, considera que o movimento conseguiu visibilidade mesmo com a pouca divulgação em grandes veículos de imprensa. "Na feira passada, teve muita gente e teve informação da imprensa. Este ano, houve mais gente do que no outro, e a grande imprensa não falou da gente — quando falou, foi para criticar. E o povo mesmo assim está aqui", comentou.

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Segundo ela, além de desconstruir a imagem que a imprensa faz do movimento, a Feira conseguiu comunicar para sociedade que a luta pela reforma agrária está intrinsecamente ligada à produção da alimentação saudável. "O movimento que está aqui é o mesmo que luta pela terra porque as coisas não se separam. Sem a posse da terra, nós não teremos produção saudável. A luta pela terra tem que casar com a luta pela produção e mudança do modelo agrícola", afirmou a dirigente. Segundo Ivoneide, o evento é a materialização da ideia da reforma agrária popular e também do diálogo das pautas do movimento com a população.

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Apoio do público

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A artista plástica Caroline Harari, 58 anos, teve o primeiro contato direto com o MST neste domingo (7). Para ela, a feira desmistificou a ideia de que os militantes do movimento são "um bando de arruaceiros que entra nas propriedades quebrando tudo".

"Muitas vezes eu via, através da imprensa, o MST como uma entidade muito distante. Mas hoje, quando cheguei aqui, eu vi que são pessoas normais, gente simples que está lutando por um pedaço de terra e pelo direito de viver", disse Caroline.

Caroline contou que, na feira, encontrou "tudo o que o ser humano pode produzir", desde os produtos in natura aos mais elaborados, como geleias e artesanatos. Produtos inusitados, como a cerveja artesanal "Fora, Temer", chamaram a atenção do público. Ainda segundo o MST, foram comercializadas 280 toneladas de alimentos.

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Mesmo trabalhando há 30 anos com tratamentos de saúde por meio da aplicação de produtos e técnicas naturais, Suzane Barreto não conhecia o trabalho exercido pelo o MST na área. "Os sem-terra eu até gostaria de conhecer mais, se você quiser enviar algo para mim por e-mail, eu tenho interesse porque eu vejo falarem duas coisas, bem e mal... Mas não tenho nenhuma opinião formada", disse Suzane. Só de castanha, ela levou dois quilos. Além disso, a naturopata comprou baru, sucupira e jenipapo.

Satisfação

Após três dias de viagem para chegar até São Paulo (SP), a feirante Josefa Cristina da Silva, do município de Mirante da Serra (RO), localizado a 2,7 mil quilômetros da capital paulista, mostrou satisfação com o último dia de vendas.

Na barraca de Rondônia, os nove tipos diferentes de produtos feitos de cacau, principal produtos das lavouras do Assentamento Padre Ezequiel, fizeram sucesso com o público da feira. Além deles, pimenta e banana também tiveram uma boa saída, garante a sem-terra. "Entre os produtos todos, o chocolate foi o que mais bombou aqui na feira", disse a agricultora que pretende voltar nas próximas edições.

Já o coletivo de produção do assentamento Roseli Nunes, no município de Piraí, região sul do estado do Rio de Janeiro, comercializou banana, inhame, broa de milho, pimenta em conserva, pokã e doces.

O feirante Mário Bestetti pontuou a boa integração com os visitantes do evento. "Não tem explicação. Para você ver como é que estou aqui, sem voz. Você já pode ver que foi bom demais", disse ele com a voz rouca e falhada. Ele afirmou que, mesmo com a chuva em um dos dias do evento, o grande número de visitantes no final de semana superou a expectativa. "É muito importante por nós trazemos produtos de qualidade para a mesa das famílias brasileiras".

Diversidade

O químico Jorge Dreyer já havia participado da 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária em 2015. Neste ano, ele e sua esposa voltaram duas vezes: no primeiro dia, para comprar os produtos, como queijo e salame, e neste domingo, para almoçar nas tendas da Culinária da Terra — o prato escolhido foi o carreteiro, na barraca do Rio Grande do Sul. Para ele, a representação das diversidades regionais de todo o país foi o que mais chamou a atenção. "Eu acho que é importante para divulgar a cultura dos outros estados do Brasil, trazer os produtos que eles cultivam e produzem nos outros estados para o conhecimento das outras regiões", disse ele.

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Já Caroline destacou, além da diversidade, os preços dos alimentos. "Infelizmente, aqui em São Paulo, a alimentação saudável, com produtos orgânicos, é muito caro. Já está muito caro comer com veneno. E aqui não: temos acesso a produtos de primeira qualidade, acessíveis ao bolso de qualquer um. Poderia ter uma feira semanal que eu iria", finalizou a artista plástica.

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O MST se prepara para uma nova Feira Nacional em 2018, também na capital paulista. O movimento mostrou o desejo de utilizar novamente o espaço do Parque da Água Branca para a terceira edição do evento, no próximo ano.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque