Homenagem

Cangaceiro, operário e líder espírita: Nelson Xavier deixa legado à arte dramática

Ator e diretor brasileiro faleceu nesta quarta-feira (10), aos 75 anos, em Uberlândia (MG)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"No Arena, eu me tornei comunista, porque descobri a função social da arte", disse em entrevista
"No Arena, eu me tornei comunista, porque descobri a função social da arte", disse em entrevista - Divulgação

Das grandes personagens que marcaram a carreira do ator e diretor Nelson Xavier ao longo de seis décadas, Lampião e Chico Xavier povoam a memória da maioria que acompanhou sua trajetória. Mas muitos outros personagens representantes da luta brasileira também estiveram presentes ao longo de sua caminhada, sempre com o compromisso com o teatro crítico.

Nascido em São Paulo, o ator faleceu aos 75 anos nesta quarta-feira (10), em Uberlândia (MG), devido a complicações de uma doença pulmonar, decorrente de um câncer que ele tratava há 14 anos. O velório aconteceu nesta quinta-feira (11), no Cemitério do Caju, na zona portuária do Rio de Janeiro (RJ).

Emocionada, a filha de Xavier, Tereza Villela Xavier, disse em sua rede social que, "ele virou um planeta! Estrela ele já era. Fez tudo o que quis, do jeito que quis e da sua melhor maneira possível, sempre".

Nelson Xavier ainda poderá ser visto nas telas no filme Comeback, de Erico Rassi. Ele protagonizará um ex-pistoleiro aposentado que reage violentamente à hostilidade do mundo que o cerca. O filme deve chegar aos cinema no dia 25 deste mês.

Trajetória

Iniciando nos palcos de teatro, Xavier formou-se pela Escola de Arte Dramática (EAD) nos anos 1950. Não demorou a se envolver com o Teatro de Arena, que emergia na época encenando peças realistas. Nele, fez os clássicos Eles Não Usam Black-Tie, em 1958; Chapetuba, Futebol Clube, de Vianinha, em 1959; e Revolução da América do Sul, de Augusto Boal, em 1960, e o Testamento do Cangaceiro, de Chico Assis.

No maior período de retirada de direitos sociais vivenciado pelo país, a Ditadura Militar (1964 - 1985), o ator ganhava reconhecimento em sua carreira. "Tive a sorte de me encaminhar para esse grupo. No Arena, eu me tornei comunista, porque descobri a função social da arte. A gente queria fazer a revolução", disse em entrevista ao programa Vanguarda.

"Entrei no partido comunista em Recife, fazia teatro para camponeses. Fazíamos teatro de propaganda política, agitação. A gente fazia a revolução brasileira. Pra tirar essa cambada que até hoje está no poder, para melhorar o Brasil", completou.

Também fazem parte de sua história o filme A Queda (1976), que escreveu e dirigiu ao lado de Ruy Guerra. A obra narra a morte de um operário enquanto trabalhava na construção do metrô do Rio de Janeiro devido à falta da segurança aos funcionários da obra.

A despeito do sucesso e dos prêmios que marcaram sua carreira, o ator nunca teve receio de expor os paradoxos e mudanças que marcaram sua vida. "É muito difícil fazer cinema no Brasil, pelo menos o cinema que eu quero fazer", disse em entrevista.

Em 2010, protagonizou o filme bibliográfico do líder espiritualista Chico Xavier. "Com Chico, vi que não é pela violência, é pela solidariedade. Só o amor pode salvar o homem. Só a solidariedade humana, o trabalho em função do amor, da paz, das pessoas entenderem umas às outras", disse em entrevista.

Edição: Camila Rodrigues da Silva