Neste sábado

Seminário debate complexidade do conflito agrário no estado de São Paulo

Dossiê aponta que número de homens e mulheres envolvidos em disputas no meio rural paulista é "alarmante"

Brasil de Fato |São Paulo (SP) |
O dossiê foi elaborado com o objetivo de criar uma interface entre a academia e os movimentos populares
O dossiê foi elaborado com o objetivo de criar uma interface entre a academia e os movimentos populares - Andre Borges/Agência Brasília

Atualizada às 20h26

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A região do Vale do Ribeira, a mais empobrecida do estado de São Paulo, está historicamente ligada à mineração e aos conflitos agrários do campo paulista. "Nós não temos energia elétrica, não temos estradas, mas a nossa luta principal é pelo reconhecimento de nossa terras", afirma Claudemar Henrique Pedroso, morador da Comunidade dos Caboclos do bairro Ribeirão dos Camargos, localizada no município de Iporanga. 

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A comunidade é originária do primeiro ciclo de ouro ocorrido no Vale, por volta de 1575. Os caboclos e caboclas descendem dos primeiros colonizadores portugueses e dos povos originários que habitavam as margens do Ribeirão Iporanga.

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As terras abrigam hoje 29 famílias e estão sobrepostas pelo Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. Para Pedroso, o governo demarca reservas ambientais por interesses econômicos na região e é falsa a suposta preocupação com o meio ambiente. Um dos indicativos disso é que a comunidade protocolou um pedido de criação de Reserva de Desenvolvimento Sustentável, mas até hoje não obteve retorno.

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São questões como essas que serão debatidas neste sábado (13), no Seminário "As Lutas Sociais Hoje e a Questão Agrária em São Paulo". Maria Titi Rubio, do Movimento pela Soberania Popular na mineração, que também participa do evento, ressalta a importância de documentar as questões do Vale do Ribeira: "historicamente, a questão minerária faz parte das lutas no campo", comenta.

O grande atrativo da atividade é a divulgação do Dossiê Lutas Sociais no Campo em São Paulo. O documento, que contempla os anos de 2014 e 2015, é fruto de uma parceria entre o Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo, o Centro de Estudos Migratórios (CEM/SP), o Centro de Estudos Rurais da Universidade de Campinas (CERES/UNICAMP), a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA - Núcleo SP), a Fundação Rosa Luxemburgo, o Serviço Pastoral dos Migrantes e a Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE).

O objetivo das entidades é trazer à luz a complexidade dos conflitos que envolvem a questão agrária no estado. "O dossiê nasce da ideia de criar uma interface entre a academia e os movimentos sociais", sintetiza Gabriel Teixeira, membro do Observatório.

Havia uma necessidade de criar um trabalho com uma solidez metodológica que subsidiasse a ação de movimentos populares. O dossiê vem suprir essa demanda. Além disso, o relatório visa nortear iniciativas de pesquisadores da questão agrária e de gestores de políticas públicas.

O documento perpassa os atores envolvidos, os impactos sociais, econômicos e políticos produzidos por tais processos, a especulação por terras, e o agronegócio. Todas essas questões são discutidas da perspectiva dos próprios sujeitos que resistem à exploração no trabalho. Para Teixeira, a conjuntura política favoreceu a publicação do documento. Segundo ele, há neste momento diversos processos que enfatizam cada vez mais o agronegócio, a exploração da agropecuária e o tema hidromineral, "tendências que acirram ainda mais os conflitos que a gente tem mapeado e que estão expressos nessa publicação", explica.

Existe uma ideia de que São Paulo não tem problemas no campo. O documento visa desmistificar esses preceitos e trazer um panorama das lutas sociais no estado e sustentar a tese de que o número de homens e mulheres envolvidos em conflitos no meio rural paulista é "alarmante".

Serviço

O evento será realizada no auditório azul do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, a partir das 9 horas.

Endereço: Rua São Bento, 413, próximo ao metrô São Bento.
Mais informações: (11) 3284-7873

Edição: Vanessa Martina Silva