VIOLÊNCIA SEXUAL

Mulheres denunciam "histórica omissão" em casos de estupros na UFRRJ em Seropédica

Em manifesto, estudantes cobram ações da Prefeitura, da Reitoria e da Embrapa; reitor afirma que medidas serão tomadas

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Mulheres marcham no campus da Universidade Rural em manifestação contra violência
Mulheres marcham no campus da Universidade Rural em manifestação contra violência - Victor Ohana

Um dia dedicado à luta contra o estupro. Assim foi a última segunda-feira (15) na Universidade Rural, quando as estudantes protestaram no campus e na BR-465, estrada que liga o Rio de Janeiro à São Paulo, contra os casos de violência sexual ocorridos na instituição. Na semana passada, a Reitoria divulgou o registro de dois casos de estupro. As vítimas, não identificadas, haviam aceitado carona de desconhecidos em frente ao Pavilhão Central da instituição, e foram violentadas. Centenas de mulheres se reuniram erguendo cartazes contra a cultura do estupro e exigindo providências da Administração Central. Além disso, leram um manifesto em que responsabilizam os casos de estupro à “histórica omissão” da Reitoria, da Prefeitura de Seropédica e da Empresa Brasileira de Pesquisa em Agropecuária (Embrapa), onde muitas alunas têm aulas, desenvolvem pesquisas e estagiam.

Em seguida, as estudantes marcharam até a sede da Guarda Universitária e dedicaram uma longa vaia à equipe. Segundo uma das organizadoras do ato, a conduta da Guarda em relação aos estupros na instituição é de total descaso. “Os funcionários da Guarda não são preparados para lidar com esse tipo de acontecimento, chegam a tratar as vítimas com deboche, sem empatia e grosseiramente. Na maioria das vezes, eles ignoram e absolutamente nada é feito”, afirma a integrante do movimento, que preferiu não se identificar. Guardas universitários assistiram de pé à vaia das alunas, acompanhados de policiais militares que estavam presentes com arma em punho.

Após as vaias, as estudantes colocaram fogo em pneus na BR 465 e interromperam o trânsito por cerca de meia hora. Depois, seguiram para uma assembleia com o reitor da Universidade, o professor Ricardo Berbara. Um dia depois, a Polícia prendeu um suspeito de estuprar as alunas. Ele foi identificado por três vítimas.

Reitor afirma que medidas serão tomadas em breve

O ponto de caronas já é um local tradicional na Universidade. A prática de pedir caronas no local para retornar para casa, no Centro de Seropédica, tornou-se habitual por causa dos horários reduzidos de ônibus universitários que oferecem transporte gratuito para os estudantes. Quem deseja frequentar as aulas e não tem dinheiro para pagar a tarifa diária das vans que transitam entre o campus e o centro, vê-se obrigado a optar entre duas alternativas: ir e voltar do campus andando, numa ciclovia sem iluminação, ou pedir caronas a desconhecidos.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Berbara afirmou que a Administração já ampliou os horários dos ônibus universitários gratuitos, mas reconheceu que ainda há deficiências. Segundo ele, entre as medidas de curto prazo estão a maior disposição de lâmpadas no campus e a compra de roçadeiras para manutenção da grama, providências que serão tomadas em cerca de uma semana. Além disso, o reitor cita a instalação de câmeras, que já estão compradas, mas devem começar a funcionar em até dois meses.

Berbara assume ainda a necessidade de aumentar o quadro de funcionários de segurança no campus, que conta apenas com 40 guardas universitários. Porém, de acordo com ele, a Universidade não tem caixa para terceirizar seguranças e nem poderá abrir concursos públicos. A solução será um convênio com a Prefeitura de Seropédica, que cederá 110 guardas municipais à instituição.

Polícia militar

Sobre a presença de policiais militares na Universidade, com arma em punho, no dia da manifestação, o reitor nega que a Administração tenha solicitado a presença dos PMs, e afirma que pediu aos policiais que se afastassem do local de concentração das estudantes. Atendendo ao pedido, eles se dirigiram à sede da Guarda, mas eles não imaginariam que o protesto passaria por lá.

Segundo Berbara, a Polícia Militar não está proibida de transitar pelo campus. “A Divisão de Guardas tem uma relação muito estreita com as forças de segurança do Estado. Essa relação é importante para a gente, para garantir o mínimo de articulação da Guarda com as forças de segurança”, afirma. “Eu concordo com a preocupação do movimento, mas esse é um balanço que a gente tem que ver os prós e os contras. Se a ostensividade da PM inibe a violência, a gente tem que considerar mais os aspectos positivos do que os negativos da sua presença”, disse o reitor.

Porém, Berbara ressalta que quem fará as rondas no campus não será a PM, mas sim a guarda municipal, que não é armada. Além disso, ele diz que a PM não pode realizar operações no campus sem informar à Reitoria, a não ser que se trate de um flagrante.

Debate

Os casos de estupro são tema antigo na Universidade. No ano passado, o movimento “Me Avisa Quando Chegar” ganhou espaço nos jornais após protestar contra a violência sexual no campus. Na época, a Administração Central reconheceu o problema e anunciou medidas, mas os casos acontecem até hoje.

Para a integrante do movimento, a importância maior da luta dessas estudantes é conscientizar a todos de que a cultura do estupro existe. “Depois do ‘Me Avisa Quando Chegar’, o debate ganhou destaque e mais meninas se sentiram acolhidas e empoderadas para falarem mais sobre o assunto, dentro e fora da Universidade”, diz ela. “Organizadas, temos mais força para combater, conscientizar e acabar com a cultura do estupro, que atinge a todas nós”, finaliza.

Edição: Vivian Virissimo