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E se o Exército brasileiro estivesse a favor do povo e da nação?

As manifestações do dia 24 de maio representam uma nova insurgência do povo brasileiro

Belo Horizonte |
"A grande mídia se utiliza de casos de depredação do patrimônio público para criminalizar o povo em luta"
"A grande mídia se utiliza de casos de depredação do patrimônio público para criminalizar o povo em luta" - Mídia NINJA

O Exército brasileiro foi acionado no dia 24 de maio em Brasília para agir contra o povo. A elite brasileira, representada pelos deputados de aluguel do ilegítimo Congresso Nacional, utiliza as forças armadas para garantir seus interesses, principalmente: 1) a aprovação das reformas da Previdência e a reforma trabalhista para satisfazer os empresários que financiam suas campanhas; 2) a garantia de que Temer saia por meio de um acordo, ao invés de preso; 3) um nome que consiga conciliar os interesses do PMDB e do PSDB e que não gere grandes perdas na composição desses partidos no poder. 

Por sua vez, a grande mídia mostra cotidianamente imagens de protestos violentos na Venezuela e esconde do público as massivas manifestações em favor da continuidade do governo de Nicolás Maduro e da Revolução Bolivariana. Para piorar, a grande mídia (Globo, Estadão, Folha e Veja) diz que as manifestações violentas que ocorrem por lá são legítimas e que o chavismo instaurou uma ditadura no país. Enquanto, aqui no Brasil, qualquer brita lançada contra o patrimônio público ou contra a propriedade privada se torna um ato de vandalismo que deve ser combatido com violência policial.

Daí me pergunto: ditadura é colocar o exército na rua para defender a autonomia e a soberania do país, conforme faz a Venezuela? Ou ditadura é colocar o exército na rua para reprimir – pela primeira vez após a ditadura militar – o povo que luta por seus direitos e por sua dignidade? A história é a chave da resposta. A Revolução Bolivariana se iniciou com a tentativa de um golpe militar encabeçado por Chávez e outros revolucionários do próprio Exército venezuelano que tiveram um objetivo diferente do objetivo dos militares brasileiros de 1964. Os militares venezuelanos, ao contrário dos brasileiros, deram um golpe para retirar do poder um governo autoritário e assassino que estava no auge da produção petrolífera do país, mas que estava aplicando uma política econômica neoliberal, responsável por aumentar substancialmente a pobreza das classes mais baixas, a violência e a dependência econômica da Venezuela.

Antes dos revolucionários do Exército tentarem aplicar o golpe no dia 4 de fevereiro de 1992, o presidente da época, Carlos Andréz Perez, havia ordenado a utilização do poderio militar para reprimir e assassinar manifestantes contrários as suas medidas autoritárias. Estima-se que pelo menos 400 pessoas foram mortas nesse período. A partir daí, o setor revolucionário do exército que defendia a construção de um projeto autônomo e independente de nação (baseado nos princípios libertadores de Simón Bolívar) entendeu que era necessário retirar do poder os oportunistas que estavam se utilizando da estrutura do Estado para favorecimento privado de pequenos grupos, tal qual vemos acontecer hoje no Brasil. O golpe infelizmente fracassou, pois faltou força para a sua consolidação e Chavéz, o principal líder da ação, assumiu o fracasso em rede nacional, sendo preso em seguida. No entanto a crise não foi resolvida.

O presidente Carlos Andréz Perez sofreu impeachment por razões de desvio de dinheiro e novas eleições foram convocadas. Chávz deixou de ser um prisioneiro político em 1994, quando foi liberto pelo então presidente eleito Rafael Caldera e em 1998 candidatou-se para a vaga de presidente da Venezuela, vencendo as eleições com 56% dos votos. A Venezuela a partir de então, iniciou um árduo e doloroso trabalho para a recuperação e o desenvolvimento da nação, onde a Assembleia Constituinte impulsionada por Chávez e aprovada por referendo pela população, garantiu novamente os direitos dos cidadãos venezuelanos e avançou na construção das bases jurídicas que tornaram possível a construção de um modelo de democracia direta e participativa, por meio do poder popular. 

Enquanto isso no Brasil, a grande mídia se utiliza de casos de depredação do patrimônio público para criminalizar o povo em luta, para chamar de vândalos aqueles que estão lutando por direitos básicos e dignidade. A grande mídia, que é um dos setores que conduz o golpe no país juntamente com o PMDB, o PSDB e o judiciário (Operação Lava Jato e MPF), busca abafar que as ações que resultaram em depredação são de uma minoria radical também presente nos atos. Com isso, buscam manter o controle sobre o povo, “ensinando” repetidas vezes que colocar fogo em qualquer lugar é sinônimo de bandidagem, vandalismo ou anarquismo.

É por meio de incansáveis repetições de jargões que a grande mídia tenta domesticar o comportamento do brasileiro, induzindo os cidadãos a pensarem que mais importa um prédio público intacto do que a garantia de nossos direitos fundamentais. As notícias sobre “vandalismo” se tornam o “bode na sala” da imprensa e dos parlamentares golpistas que continuam aprovando no Congresso Nacional leis contrárias aos interesses populares. Na rede social Twitter por sua vez, os perfis porta-vozes do conservadorismo e do fascismo no Brasil aproveitam da repercursão internacional das manifestações para relacionar os fatos a Lula, utilizando a hashtag #LulaNaCadeia para empurrar a irresponsabilidade de Temer para o colo do PT e da esquerda. Mas o escândalo com que foi recebida a atitude do presidente ilegítimo de convocar o Exército, os obrigou a recuar.

Não nos enganarão e não nos calarão. As manifestações do dia 24 de maio representam uma nova insurgência do povo brasileiro e se o nosso exército estivesse de fato ao lado do povo, os coronéis e os generais não estariam defendendo este governo. Mas se juntariam às marchas dos trabalhadores e trabalhadoras para defender a nossa ainda frágil nação. Hoje é “o dia antes da queda de nossos inimigos”.

Fora Temer. Eleições diretas já!

*Caio Clímaco é estudante de ciências do estado e militante da Consulta Popular.

Edição: Larissa Costa