Meio ambiente

Para camponeses, água já foi privatizada, diz líder dos atingidos por barragens

Neudicléia de Oliveira, do MAB, participou hoje do lançamento do manifesto do Fórum Alternativo Mundial da Água

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Edson Aparecido discursa durante o chamamento público para o Fórum Alternativo Mundial da Água, em São Paulo
Edson Aparecido discursa durante o chamamento público para o Fórum Alternativo Mundial da Água, em São Paulo - Rafael Stedile

"Pra nós que temos nossa base de maioria camponesa, a água praticamente já foi privatizada por grandes grupos econômicos”, denuncia Neudicléia de Oliveira, da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Ela participou, nesta segunda-feira (5), do lançamento do manifesto do Fórum Alternativo Mundial da Água, que tem como lema "Água é Direito e não Mercadoria".

O objetivo do evento é questionar a privatização da água, saneamento básico, uso dos recursos naturais e exploração deles por grandes empresas, fazendo frente ao Fórum Mundial da Água que ocorre de três em três anos e será realizado em Brasília no ano que vem entre os dias 18 a 23 de março.

Lançado no Dia Mundial do meio ambiente, o fórum alternativo reuniu diversos movimentos populares, sindicais e ambientalistas como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores sem terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental (FNSA) na livraria Tapera Taperá, em São Paulo (SP).

Água como direito

Na avaliação dos organizadores, o evento oficial se assemelha mais a um “fórum das corporações”. A crítica se refere ao fato de que as empresas que são convidadas “já controlam a água em vários países do mundo e querem fazer o mesmo aqui, explorando nossas bacias, aquíferos e riquezas naturais", diz Edson Aparecido da Silva da coordenação nacional do Fórum Alternativo Mundial da Água e representante  da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU).

"Hoje nós estamos dando o pontapé inicial de uma série de atividades que vamos buscar fazer para trabalhar esse tema da não privatização da água e sim da água como um bem comum, não como mercadoria", ressalta Neudicléia.

Ela conta ainda que no caso dos Atingidos por Barragens, que vivem em regiões onde foram construídas grandes hidrelétricas, “existem empreendimentos para captação de água, mas a população não têm acesso a ela, que é destinada aos grandes grupos”. Neste contexto, ressalta Neudicléia, “o agro [negócio] e o hidronegócio se beneficiam também da água para trabalhar todas as questões relacionadas à própria lucratividade do empresariado".

Organização e perspectivas

Edson Aparecido destaca a importância dos comitês estaduais serem permanentes, propositivos e não só para a discussão pontual do Fórum, no ano que vem, mas um esforço coletivo que será levado a frente:

"A gente tem a ideia de construir comitês locais de preparação do Fórum em várias localidades. Porque os comitês serão espaços que continuarão as discussões depois do Fórum, na luta pelo direito à água como direito humano e fundamental", comenta Aparecido.

O lançamento do Fórum em Brasília ocorrerá na próxima sexta-feira (9), na Universidade de Brasília (UnB), às 14h, com a presença do relator especial da ONU para saneamento, Léo Heller.

Você pode ler a íntegra do manifesto aqui e acompanhar a página do Facebook do Fórum Alternativo.

Edição: Vanessa Martina Silva