Violência

Brasil concentra 10% dos homicídios do mundo; negros e jovens são principais vítimas

De acordo com o Atlas da Violência, Brasil registrou 59 mil homicídios em 2015

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"Então existe uma verdadeira licença para matar no Brasil, desde que não seja nas ruas nobres das cidades", diz pesquisador do Ipea
"Então existe uma verdadeira licença para matar no Brasil, desde que não seja nas ruas nobres das cidades", diz pesquisador do Ipea - Agência Brasil

Em apenas três semanas no ano de 2015, o Brasil teve mais homicídios do que todos os mortos registrados em ataques terroristas no mundo em 2017. Foram mais de 59 mil vítimas ao longo daquele ano, o que fez com que o Brasil fosse responsável por 10% de todos os assassinatos ocorridos no globo, consolidando a taxa de homicídios no país em quase 29 mortos para cada 100 mil habitantes.

De acordo com o Atlas da Violência, divulgado nesta segunda-feira (4), o índice alarmante se sustenta sobre a morte de homens jovens, negros, com baixa escolaridade. 

O pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas Daniel Cerqueira ressalta que a cada 100 vítimas, 71 eram negras:

"Por que a sociedade brasileira não se sensibiliza, por que o estado brasileiro não se sensibiliza e não coloca os melhores recursos, assim como os outros países o fazem, para tratar o terror? E a razão é muito simples: porque nós vivemos em uma sociedade muito desigual e ainda com um histórico de racismo e as pessoas que morrem são jovens, negras, com baixa escolaridade e moradores das periferias dos grandes centros urbanos. Então existe uma verdadeira licença para matar no Brasil, desde que não seja, obviamente, nas ruas nobres das cidades"

E mesmo quando a desigualdade social é minimizada, o racismo pesa nos números. De acordo com Cerqueira, os negros tem 23% mais chances de serem assassinados na comparação com homens não negros na mesma faixa etária, com a mesma escolaridade e morando no mesmo bairro.

O Atlas aponta ainda que metade de todos os homicídios ocorridos no Brasil estão concentrados em 2% dos municípios, e nesses lugares, metade das mortes ocorrem em 10% dos bairros.

Para a presidenta do Fórum de Segurança Pública, Samira Bueno, isso demonstra que é possível mudar esse cenário com planejamento integrado que inclua todas as esferas de poder:

"Por mais que estejamos diante de uma crise financeira, isso não depende só de recursos, tem um trabalho de coordenação que pode começar a ser feito hoje. E se essa tragédia de 60 mil pessoas assassinadas todos os anos no Brasil não coloca isso como uma prioridade, sendo que isso tem inclusive impacto no desenvolvimento econômico do país"

Entre as mulheres vítimas a diferença também é significativa, já que houve aumento de 22% na mortalidade de negras e redução de mais de 7% na de brancas, amarelas e indígenas, entre 2005 e 2015.

Em alguns estados do Brasil, a diferença se assentou ainda mais. Em Alagoas, por exemplo, a taxa de homicídios de pessoas negras foi 11 vezes maior do que a de não negras e a discrepância também foi bastante significativa em Sergipe e na Paraíba.

Edição: Radioagência Nacional