Estratégia

Plano da esquerda contra a crise está unindo forças progressistas, diz ex-ministro

Gilberto Carvalho esteve na apresentação do Plano Popular de Emergência, em Brasília, nesta terça

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Plano Popular de Emergência, lançado na semana passada em SP, é apresentado em Brasília com participação de movimentos e parlamentares
Plano Popular de Emergência, lançado na semana passada em SP, é apresentado em Brasília com participação de movimentos e parlamentares - Mídia Ninja

Unir as forças progressistas brasileiras: esse é o grande mérito do "Plano Popular de Emergência para o Brasil", apresentado em Brasília (DF) nesta terça (6), no Sindicato dos Bancários. O plano aponta saídas políticas e econômicas para retirar o Brasil da crise e foi criado por cerca de 60 organizações que compõem a Frente Brasil Popular, tem como grande mérito unir as forças progressistas brasileiras. 

O lançamento do Plano Popular aconteceu no último dia 29, em São Paulo (SP), com o objetivo de "inverter, no mais curto espaço de tempo, os indicadores econômicos, sociais e políticos que resultaram do interregno golpista”, conforme manifesto.

O ex-ministro Gilberto Carvalho, que atuou nos governos Lula e Dilma e participou do evento, exaltou, na noite desta terça, o fato de a iniciativa abrir a possibilidade de o povo participar verdadeiramente da formação do programa. 

"É uma iniciativa corajosa, porque a mobilização é difícil, e generosa, porque implica e convida a participação mais ampla possível. Não tenho dúvida de que esse programa pode ajudar a consolidar essa unidade. Podíamos ter saído [do golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff do cargo] divididos em mil pedaços, mas logo em seguida começaram os movimentos de ocupação escolas, a criação da Frente do Povo Sem Medo, a Frente Brasil Popular, forças foram se ampliando e se acumulando. O programa pode ser o vértice que nos ajuda a manter essa unidade”, avaliou. 

:: Leia o Plano Popular de Emergência

Gilberto também vê no Plano Popular um embrião que irá inspirar um programa eleitoral a ser implementado a partir de 2019, em caso de vitória de um governo popular e democrático.

“Essa ideia de criar o início de um programa alternativo é fundamental porque, para além de combater essa coisa que está aí apodrecida, além de lutar contra as reformas com muita força, é um começo de um caminho. E um programa de governo não pode nascer no laboratório, ele tem que nascer assim, no debate”, afirma. 

Em sua fala, Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, afirmou que o programa é "uma obra aberta e coletiva que será construída e reconstruída por meio do diálogo com a sociedade", como resposta "à desconstituição do País e à agressão à Constituição Brasileira".  

“Representa o avanço das esquerdas do Brasil, pois mesmo com as divergências, conseguimos construir um plano comum, mostrando a capacidade de mobilização”, afirmou. “Nosso programa tem um objetivo central: desenvolvimento com distribuição de renda. Sem desenvolvimento, não há distribuição de renda, e sem distribuição de renda, essa democracia é insustentável. O eixo é a democracia, que é o centro da luta popular. A democracia é fundamental para nós, o povo, não para as elites. Elas não precisam dela”, completou.

Amaral destacou ainda como diretrizes a reforma política, destruição do monopólio da mídia (democratização da mídia), democratização do poder judiciário, política de emprego e renda e retomada do desenvolvimento industrial. “O que nos espera, ao povo brasileiro, é uma maratona de obstáculos”, disse ele ao citar frase de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Marcello Lavenère, advogado que liderou o processo impeachment do ex-presidente Collor na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), disse que a obra da Frente Brasil Popular não se esgota pois, após contribuir com a defesa da Constituição Brasileira e do mandato da presidenta Dilma, está ajudando a unir a esquerda, aglutinando setores da sociedade civil, partidos políticos e a juventude.

“É um momento muito importante, porque uma das coisas que a história nos ensina é que é preciso ter unidade. Sempre que essas forças se separaram, foram derrotadas; sempre que se uniram, foram vitoriosas”, disse.

PT

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), que também esteve presente no encontro, saudou a Frente Brasil Popular pela proposta por ter acima de tudo uma visão popular e lamentou pela derrota na votação da reforma trabalhista nesta terça (6) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. "Hoje não foi um dia muito alegre. É uma tristeza imensa ver brancos e ricos discutindo os direitos do povo”, afirmou.

No entanto, ela destacou que o golpe "está fracassado", pois a pesquisa CUT/Vox Populi mostrou uma mudança na correlação de forças ao apontar o ex-presidente Lula com 40% das intenções de votos na pesquisa espontânea.

Gleisi acrescentou que ninguém do PT está autorizado a articular as eleições indiretas em nome do partido caso o presidente Michel Temer saia do cargo. “Vamos resistir ao colégio eleitoral. Não podemos legitimar um projeto de eleição indireta”, enfatizou.

Sobre o Plano

O Plano Popular de Emergência  têm como foco o "Fora, Temer", as "Diretas Já", a oposição às reformas trabalhista e previdenciária, além da realização de uma Assembleia Constituinte para aprovação de medidas que garantam a retomada do desenvolvimento da economia com distribuição de renda.

Nele, saídas políticas e econômicas para retirar o Brasil da crise política e econômica estão dividas em dez eixos: 1) democratização do Estado; 2) política de desenvolvimento, emprego e renda; 3) reforma Agrária e agricultura familiar; 4) reforma Tributária; 5) direitos sociais e trabalhistas; 6) direito à saúde, à educação, à cultura, à moradia; 7) segurança pública; 8) direitos humanos e cidadania; 9) defesa do meio ambiente e 10) política externa soberana.

O ato promovido pela Frente Brasil Popular reuniu representantes da sociedade civil, partidos políticos do campo da esquerda, além entidades como a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da União Nacional dos Estudantes (UNE), da Central dos Movimentos Populares (CMP), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outros. O Plano Popular de Emergência já foi lançado no teatro Tuca, em São Paulo, e passará por diversas cidades brasileiras. 

Segundo a Frente Popular, o Plano Popular é saída democrática que tem como pressuposto a antecipação das eleições presidenciais para 2017.

“Esse é primeiro passo para se travar uma ampla e persistente disputa política capaz de criar uma correlação de forças favorável a oportuna convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, destinada a refundar o Estado de direito e estabelecer reformas estruturais democráticas”, defende a Frente.

Assista o vídeo de lançamento do Plano Popular de Emergência:

Edição: Camila Rodrigues da Silva