História

Como em 1984, movimento “Fora, Temer” e por eleições diretas já tem ampla adesão

Frente Nacional foi criada para impulsionar campanha em todo o país

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Manifestação contra Temer em 2016
Manifestação contra Temer em 2016 - Fernando Frazão/ Agência Brasil

A mobilização contra a permanência do golpista Michel Temer na Presidência da República, mesmo após as graves delações dos donos da JBS, ganhou contornos de uma grande campanha nacional. Nessa semana, foi anunciada a criação de uma Frente Ampla em defesa de eleições diretas, que já conta com a participação de cerca de 60 entidades da sociedade civil, incluindo movimentos populares, partidos, centrais sindicais, artistas, intelectuais, segmento religioso, entre outros.

Essa articulação ainda conta com a participação direta das duas frentes de massas mais importantes do país hoje: a Frente Brasil Popular (FBP) e a Frente Povo Sem Medo (FPSM). Juntas, elas reúnem os principais movimentos sociais do país.   

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“É uma evidência que as lutas sociais vêm numa grande ascensão no Brasil, marcada esse ano por uma greve geral, que foi muito unitária, e os atos que seguiram desde então. Nós estamos chegando a um novo patamar, transformando isso tudo em um movimento político para disputar os rumos de saída da crise brasileira”, afirma Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB e integrante da FBP.  

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Como em 1984, ano que marcou o auge da luta pela redemocratização do país com a campanha das Diretas Já – que pedia a convocação de eleições diretas para presidente da República –, o movimento em 2017 é uma reação à grave crise de legitimidade do sistema político vigente, especialmente em relação à ocupação do cargo de presidente por Michel Temer, acusado de receber propina da JBS e investigado pelo STF por corrupção passiva e organização criminosa.  

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“A experiência nos mostra que, para enfrentar esse quadro que aí está, só mesmo uma frente muito ampla, como foi as Diretas Já na luta contra a ditadura. Não pode ser uma coisa maniqueísta entre direita e esquerda. Precisamos buscar os segmentos mais amplos da sociedade”, afirma Roberto Amaral, cientista político, escritor e integrante da comissão política da Frente Brasil Popular.

“Eleições diretas curam crises de legitimidade. A nossa única saída é Diretas Já para garantir ao povo o direito de decidir seu futuro”, afirma Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

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A retomada da soberania popular é o ponto de partida fundamental, diz o manifesto da Frente Ampla por Diretas Já: “A manutenção de Temer ou sua substituição sem o voto popular significa a continuidade da crise e dos ataques aos direitos, hoje materializados na tentativa de acabar com a aposentadoria e os direitos trabalhistas, as políticas publicas, além de outras medidas que atentam contra a soberania nacional”.

Nas ruas

A Frente Ampla por Diretas Já se soma à luta dos artistas, que têm organizado atos-shows em diversas capitais, com apresentações musicais de grandes nomes da cultura nacional – só no Rio de Janeiro e em São Paulo foram mais de 250 mil pessoas – e as articulações no Congresso Nacional, após o lançamento da Frente Parlamentar Suprapartidária por Eleições Diretas, que reúne deputados e senadores de cinco partidos e até lideranças políticas que fazem parte da base parlamentar de Michel Temer.

No Congresso, a pressão é pela aprovação de uma emenda constitucional que permitiria a realização de eleições diretas em caso de vacância do cargo de presidente até um ano antes do fim do mandato.

:: Entenda o que é Frente Suprapartidária

O calendário de mobilizações prevê atos-shows em Salvador, Recife e Porto Alegre, no próximo dia 11. Em Belo Horizonte, a mobilização será no dia 16, durante o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).

No dia 30 de junho, está prevista a segunda greve geral convocada por todas as centrais sindicais, que espera ser ainda maior que a paralisação do dia 28 de abril, que atingiu mais de 35 milhões de trabalhadores em todo o país.  

Por direitos

Um dos objetivos da Frente Ampla é esclarecer e mobilizar o conjunto da população que está sendo afetada pela retirada de direitos em curso desde a chegada de Temer ao poder.

“Tem havido uma série de alterações constitucionais e na legislação que vulnerabilizam os direitos de trabalhadores, como a emenda constitucional que limita os gastos com saúde e educação, a questão da Previdência e a reforma trabalhista”, afirma a pastora Romi Márcia Bencke, secretária-geral da Coordenação Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), articulação que reúne a maior parte das organizações do movimento ecumênico no país.

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A pastora Romi Bencke afirma que vai aproveitar a capilaridade do movimento ecumênico, presente nas igrejas de todo o país, para informar o povo sobre os graves retrocessos em curso. “É claro que as pessoas mais pobres serão duramente afetadas. Por que as reformas estão sendo levadas adiante sem um debate profundo com a sociedade brasileira?”, questiona. 

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“Nós devemos mobilizar essa maioria silenciosa no país. As pesquisas demonstram uma grande insatisfação popular, mas ainda não se expressaram politicamente com todo o seu potencial. Essa Frente Ampla pode ajudar a estimular as massas a se manifestarem, trazendo setores que dialogam diretamente com essas maiorias sociais, como o segmento religioso”, aponta Sorrentino.

Edição: Camila Rodrigues da Silva