Memória

Vlado, 80 anos: Ele era importantíssimo no jornalismo e na luta política, diz Laerte

Vladimir Herzog, jornalista preso, torturado e morto pela ditadura militar, completaria 80 anos nesta terça-feira (27)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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 Vladimir Herzog
Vladimir Herzog - Instituto Vladimir Herzog

“Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados”. A frase impactante é de autoria do jornalista Vladimir Herzog, que completaria 80 anos de vida nesta terça-feira (27) se não tivesse sido morto nas dependências do Destacamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI, no ano de 1975. Ele foi um dos nomes mais simbólicos dentre as vítimas da ditadura militar no Brasil (1964-1985).

Em memória ao jornalista, o Instituto Vladimir Herzog vai promover, também nesta terça, o evento "Vlado 80 anos". A comemoração acontecerá a partir das 20h no bar Tupi or not Tupi, na Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo (SP).

Entre os convidados especiais está a cartunista Laerte que, em conversa com Brasil de Fato, conta que, apesar de não ter conhecido Vlado pessoalmente, viveu toda a tensão da época e teve muitos amigos perseguidos. Ela mesma teve que fugir do país por segurança.

"Ele era importantíssimo no contexto do jornalismo e da luta política também. Por isso, pela vida dele e pela maneira como ele foi assassinado, ele merece que sua memória seja mantida vida e celebrada", diz.

Outras personalidades, como o ex-senador Eduardo Suplicy, o filósofo Leonardo Boff e o artista Elifas Andreato também confirmaram presença.

O evento também contará com o lançamento do livro “A história não contada do jornalista Vladimir Herzog”, escrito por Caroline Simões. 

Assassinato

Vlado, como era chamado pelos amigos, era diretor de jornalismo na TV Cultura quando agentes do regime militar foram até sua casa e o levaram para prestar depoimento no Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo (SP). A justificativa era que eles iriam investigar suas possíveis ligações com o Partido Comunista.

Ao chegar no prédio do DOI-CODI, Vlado foi submetido a sessões de tortura que o levaram à morte, algo que não estava nos planos dos torturadores. Uma cena mal feita de suicídio foi então forjada às pressas, gerando indignação por parte de amigos, familiares e colegas de profissão, que sabiam que a morte tinha sido resultado de um assassinato.

Uma multidão de cerca de 10 mil pessoas estava presente no culto ecumênico da morte do jornalista realizado na Catedral da Sé, de São Paulo (SP), o que demonstrou que a sociedade já dava indícios de descontentamento com o regime.

A viúva de Vlado, Clarice Herzog, lutou durante anos em busca da responsabilização do Estado, mas apenas em 2013 recebeu uma nova documentação de óbito, desta vez constando o verdadeiro motivo de morte. 

Pós-morte

Logo após seu assassinato, seu nome passou a ser referência de iniciativas de luta pelos direitos humanos. Em 1978, foi criado um prêmio anual de imprensa em sua homenagem, cujo objetivo é o de estimular jornalistas atuantes no tema --o chamado Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. 

Em 2009, familiares e amigos do jornalista criaram o Instituto Vladimir Herzog, que atua na área de cultura, educação e direitos humanos com o objetivo de manter viva sua memória e reforçar os valores da democracia.

Edição: Camila Rodrigues da Silva