São Paulo

Jovem assassinado na Favela do Moinho é enterrado; moradores protestaram contra PM

Leandro de Souza Santos, de 19 anos, foi assassinado pela Polícia Militar com cinco tiros e sinais de tortura

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Familiares, vereadores e moradores da Favela do Moinho compareceram ao enterro do jovem Leandro de Souza Santos
Familiares, vereadores e moradores da Favela do Moinho compareceram ao enterro do jovem Leandro de Souza Santos - José Eduardo Bernardes

Foi enterrado, na manhã desta quinta-feira (29), no cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, o corpo do jovem Leandro de Souza Santos, 19 anos, conhecido como Chiclete, assassinado na última terça (27) por policiais militares na Favela do Moinho, localizada na região central de São Paulo. 

Entre gritos que clamavam por justiça e pelo fim da Polícia Militar de São Paulo, familiares, vereadores e moradores da Favela do Moinho, local onde o jovem morava e foi assassinado, se despediram do garoto.

Manoel Viana, conhecido como Ligeiro, é dono de uma padaria na Favela do Moinho. Ele mora na comunidade “há mais de 20 anos” e se diz revoltado com as seguidas investidas da PM contra os moradores. “Lá só mora trabalhador. A comunidade do Moinho vive assustada. Quebraram minha padaria inteira. Isso não é direito”, diz. 

A morte de Leandro de Souza Santos, explica o padeiro, só trouxe revolta aos moradores da comunidade. “Não é justo, que em um momento como o que vivemos hoje um jovem seja morto a marteladas”, lamenta. 

A moradora Aracy dos Santos*, que teve um familiar morto há 14 anos nas mesmas condições, pedia por Justiça. “É isso que nós queremos. Porque o que aconteceu essa semana se repete o tempo todo”, afirmou.

Ainda muito abalados pela morte do jovem, a mãe, Maria Odete e o irmão, Lucas de Souza Santos, preferiram não dar entrevista.

Veja o vídeo com declarações exclusivas de uma das testemunhas:

Crime

Santos foi perseguido pela polícia e executado com cinco tiros durante uma ação da PM de São Paulo, comandada por homens da Rota (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar), por volta das 9 horas da última terça-feira (27). 

Um martelo também foi encontrado no local do crime e familiares afirmam que o corpo do jovem apresentava sinais de tortura, na cabeça, nos dentes e nos joelhos. Leandro morava na Favela do Moinho e, segundo familiares, era usuário de drogas. Apesar disso, moradores afirmam que Chiclete não participava de qualquer ação de tráfico de drogas. 

O vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de São Paulo, garantiu que colocará o caso da morte de Leandro em debate na próxima reunião do grupo.

Em nota, a Polícia Militar “informa que todos os fatos que ocorreram na operação realizada pela Rota na Comunidade do Moinho, estão sendo investigados em Inquérito Policial Militar, instaurado pela Corregedoria da PM”. 

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o “DHPP instaurou IP (Inquérito Policial) e investiga a morte que ocorreu durante a intervenção dos policiais. Duas pessoas foram presas na operação. Uma delas com uma motocicleta furtada e a outra com entorpecentes e um celular roubado”, aponta a nota.

Perícia

O vereador do PSOL, Toninho Vespoli, que esteve na Favela do Moinho no dia da morte de Leandro, entregou evidências criminais ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na tarde da última quarta-feira (28).

“Peguei um martelo e um projétil de bala, que estava muito visível, estava em um armário, com o vidro quebrado, no local do crime”, explica o vereador. Ele afirmou que o vereador Suplicy tem outro projétil, entregue a ele pelos moradores, recolhido no local onde aconteceu a morte do jovem.

Segundo Vespoli, a perícia na cena do crime parece frágil e isso pode dificultar na resolução do caso. “Estou questionando bastante a perícia que foi feita. Um projétil tão visível não foi recolhido pela perícia e o martelo também não”.

“As pessoas estão dando o mesmo testemunho de que a perícia não passou de cinco minutos. Então, os órgãos competentes devem dar uma resposta à população sobre isso”, disse o vereador do PSOL.

Favela do Moinho 

A Favela do Moinho está localizada no centro de São Paulo, embaixo do viaduto Orlando Murgel, ao lado dos trilhos da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O local fica próximo à região da Cracolândia, onde, em maio desse ano, a PM fez uma operação desastrosa para prender traficantes e destruir o “fluxo” - local onde os usuários de crack se concentram.

Segundo a PM, a operação policial que resultou na morte de Leandro de Souza Santos, tinha como objetivo encontrar traficantes, que supostamente estavam abastecendo usuários de drogas na Cracolândia.

A região onde está a comunidade do Moinho, ocupada há mais de 28 anos, é estratégica para a gestão do prefeito João Doria (PSDB). O projeto, conhecido como Nova Luz, visa repaginar a região com a construção de novos empreendimentos, entregando-os à especulação imobiliária.

*O nome da fonte foi alterado para manter seu sigilo

Edição: Vanessa Martina Silva