Esportes

Artigo | Para além de um título

O tempo passou e parece que, cada vez mais, a Seleção se afasta da nossa vida cotidiana

Belo Horizonte |
A geração fabulosa de 1982 merecia muito mais que o título de campeões do mundo
A geração fabulosa de 1982 merecia muito mais que o título de campeões do mundo - Arquivo CBF

Salve, salve, meu povo! Além do frio intenso, a primeira semana de julho trouxe também as lembranças de uma das maiores derrotas de nosso futebol. Em 5 de julho de 1982, uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos perdia para a Itália e era eliminada do Mundial. 

Zico, Sócrates, Éder, Júnior, Cerezo, Falcão e cia entraram para a história não apenas como craques, mas também pela grande personalidade que demonstravam. O futebol alegre, coletivo e que não abria mão do brilho individual combinava perfeitamente com o engajamento dos jogadores na vida política do país. A beleza daquela equipe era a representação perfeita do nosso olhar esperançoso para o futuro, após tanta luta contra o regime militar, que já anunciava seu fim com as eleições diretas para governadores, marcadas para aquele mesmo ano. 

O tempo passou e parece que, cada vez mais, a Seleção se afasta da nossa vida cotidiana. É certo que, de lá pra cá, conquistamos a Copa do Mundo em duas ocasiões, mas essas conquistas parecem mais um pequeno alívio nas dores diárias do que propriamente uma celebração de nossa unidade como povo. 

Infelizmente, temos vivido um momento caótico em que as divisões em nossa sociedade não deixam espaço para a solidariedade, para a construção de um país mais justo e menos desigual. O 7 a 1 em campo se repete diariamente na vida de um povo que não tem seus direitos básicos garantidos, que sofre com uma democracia de mentira, que apenas serve para a manutenção do poder de uma minoria. 

É uma pena que a aproximação entre futebol e realidade, atualmente, seja marcada pela segregação social nas chamadas arenas, pelo desinteresse por um projeto inclusivo de sociedade e pela mercantilização de nossas relações. 

Hoje, tenho certeza de que aquela geração fabulosa de 1982 merecia muito mais que o título de campeões do mundo, pois, certamente, o sonho que sonhava era por algo maior. 
 

*Fabrício Farias é colunista de esportes do Brasil de Fato MG. 

Edição: Wallace Oliveira