Violência no campo

Pará: Acampamento do MST em Marabá sofre novo ataque

Há três anos, famílias vêm resistindo a ameaças sistemáticas de seguranças da fazenda

Brasil de Fato | Belém (PA) |

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Homens colocaram fogo nas roças e barracos e atiraram contra famílias acampadas
Homens colocaram fogo nas roças e barracos e atiraram contra famílias acampadas - Divulgação / MST

[Atualizada às 18h da segunda-feira (17)]

Localiza em Marabá (PA), o acampamento Hugo Chávez do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sofreu mais um ataque neste final de semana. Segundo relatos divulgados no domingo (16) pela educadora da escola do acampamento, Polliane Reis, 32 anos, homens armados atiraram em direção ao acampamento e atearam fogo nos barracos e roças dos trabalhadores rurais.  Ataques e ameaças tem ocorrido de forma sistemática e o clima de tensão só agrava na região sudeste do estado. 

“Durante esses três anos, nós experimentamos vários momentos de conflito aqui, então esse momento não é o primeiro, não é a primeira vez. Desde a semana passada a gente tem enfrentado uma situação de conflito”, afirma Reis, que também faz parte da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-PA). A organização afirma que as ações de perseguição são feitas a mando do fazendeiro Rafael Saldanha.

Em entrevista, o delegado da Delegacia de Conflitos Agrários em Marabá, Alexandre Silva, falou que “não se confirma situação de confronto”, confirmando que “houve um incêndio neste domingo no entorno do acampamento”. O policial disse que uma equipe da perícia está se direcionando ao local para verificar as causas do incêndio e se este foi criminoso ou não.

De acordo com Reis, a tensão se intensificou no final de semana. No sábado, as roças foram queimadas e no domingo, por volta do meio dia, um novo incêndio foi iniciado, desta vez, ao redor do acampamento. Em sua visão, o objetivo é intimidar as famílias.

Ainda segundo a liderança, à medida que o fogo se espalhava, homens armados cercaram as vias de acesso do acampamento: “No domingo, foi a tarde inteira [eles] atirando e nos cercaram também. Colocaram vários homens armados nas estradas que dão acesso ao acampamento”.

Atualmente, vivem 300 famílias no local. Uma escola foi erguida para atender cerca de 180 crianças, jovens e adultos. A área está localizada na fazenda Santa Teresa. O acampamento, segundo Raimunda Cesar, da coordenação estadual do MST, está há cerca de 44 quilômetros do centro de Marabá. 

O MST ocupa a área desde dia 8 de junho de 2014 e reivindica que esta seja desapropriada para fins de reforma agrária. Para Reis, a situação fica ainda mais grave diante do atual cenário político do país: “A gente sabe que existe uma morosidade muito grande do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e do governo federal com desapropriação de terras, nós sabemos que a reforma agrária não está na pauta - e nunca vai estar - de um governo golpista, como o de Michel Temer [PMDB]”.

A reportagem enviou questionamentos ao Incra e à ouvidoria agrária da instituição em Marabá, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. O Brasil de Fato tentou obter o contato da fazenda Santa Teresa e de Rafael Saldanha, mas não teve sucesso. 

Após a publicação da matéria, o ouvidor agrário do Incra em Marabá, Wellington Bezerra da Silva, afirmou à reportagem que a perícia policial deve ocorrer na manhã da terça-feira (18), e se posicionará sobre o caso após o procedimento.  

Edição: Rafael Tatemoto| Camila Salmazio