Lava Jato

Análise | Moro jogou com a imprensa ao comparar Lula e Eduardo Cunha

Analogia foi feita em resposta aos questionamentos da defesa do ex-presidente

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Lula participou de ato na Avenida Paulista, em 20 de junho, em defesa da democracia e em apoio ao ex-presidente
Lula participou de ato na Avenida Paulista, em 20 de junho, em defesa da democracia e em apoio ao ex-presidente - Ricardo Stuckert

O juiz Sérgio Moro comparou o caso do ex-presidente Lula ao do ex-deputado Eduardo Cunha, ambos condenados em primeira instância na Lava Jato. A comparação foi feita na terça-feira, quando Moro publicou um despacho respondendo aos argumentos da defesa do ex-presidente.

Os advogados de Lula recorreram à sentença de nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, na ação conhecida como “caso triplex”. A defesa apontou dez omissões, contradições e obscuridades na sentença.

A analogia com o caso Eduardo Cunha foi a saída que Moro encontrou para justificar uma condenação sem provas. Afinal, não houve a transferência formal da posse do imóvel para o nome de Lula.

O juiz de Curitiba disse que Cunha negava ser o titular de contas bancárias no exterior, mas podia usar o dinheiro de propina depositado nessas contas. Segundo Moro, a mesma lógica se aplica o caso triplex. Acontece que Lula nunca morou no tal apartamento. Nem ele, nem nenhum membro da família passou uma noite sequer no imóvel, que pertence formalmente à empreiteira OAS.

Além de inadequada, a comparação não tem nenhum valor nos autos do processo. Mesmo assim, a mídia comercial tratou de falar  justamente sobre esse parágrafo do despacho, porque ele ajuda a deslegitimar a defesa de Lula.

Não é novidade que Sérgio Moro joga com a imprensa ao lado dele. Há mais de dez anos, ele publicou um artigo elogiando a parceria entre a mídia e o Judiciário na operação Mãos Limpas, na Itália. Na sentença em que condena Lula em primeira instância, o juiz usou como elemento de prova uma reportagem do jornal O Globo. E não é por acaso.

Esse jogo de interesses é um risco para a democracia. Mas não há perspectivas de mudança enquanto a mídia estiver nas mãos de seis ou sete famílias.

Políticos e executivos corruptos compram o perdão através de delações premiadas. E não há na chamada TV aberta nenhuma crítica a esse mercadão de informações duvidosas. O que interessa é destruir reputações e insistir em um jogo do bem contra o mal.

Aos trabalhadores, resta acreditar na hipótese enganosa de que estamos a caminho de acabar com a corrupção e retomar o desenvolvimento do país. Triste ilusão. As ações da Lava Jato, com boas ou más intenções, convergem com os interesses dos oligopólios de mídia e do capital internacional. 

Edição: Camila Maciel