Conjuntura

Frei Betto: “Precisamos restaurar o protagonismo dos movimentos de base”

Escritor participou de encontro nacional dos movimentos de moradia e defendeu a unificação dos movimentos populares

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
“Nós falhamos porque abandonamos o trabalho de formação política e de organização de base a longo prazo”, disse o escritor.
“Nós falhamos porque abandonamos o trabalho de formação política e de organização de base a longo prazo”, disse o escritor. - Agência de Notícias do Acre

A formação política e o resgate do trabalho de base e de equipes de educação popular são, na visão do escritor Frei Betto, os grandes desafios da esquerda brasileira nos dias de hoje. A análise foi feita nesta sexta-feira (4), durante o 14º encontro Nacional de Moradia Popular, promovido pela União Nacional por Moradia Popular e a União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, no centro da capital paulista. “Nós falhamos porque abandonamos o trabalho de formação política e de organização de base a longo prazo”, disse o escritor.

Durante o debate sobre democracia e o golpe no Brasil, o escritor ressaltou a importância das eleições diretas para a ruptura com o processo de golpe político, cujo ápice se deu com a saída da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas pontuou que o problema da crise política e econômica do país não se resolve com o pleito: “É preciso um programa histórico de emancipação e libertação do país.”

O encontro nacional de movimentos de moradia se encerra no próximo sábado (5). Foto: Rute Pina / Brasil de Fato
 
“Temos que ter clareza que nossa luta é de longa duração. Anteontem [quarta-feira, dia 2 de agosto], todo mundo ficou esperando que o Congresso e os deputados fossem permitir que o [Michel] Temer fosse responsabilizado pelos graves crimes que cometeu. Mas sair Temer para entrar o Rodrigo Maia é trocar seis por meia dúzia. Precisamos pensar o processo político popular a longo prazo”, ressaltou.

Na ocasião, Frei Betto também defendeu o fim do corporativismo e a unificação dos movimentos populares: “Ou unificamos e articulamos as lutas sociais brasileiras, ou cada um de nós vai permanecer no seu trilho, sendo atropelado pelo trem do capital e dos interesses internacionais.”

Também presente no evento, Elvio Aparecido Motta, coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), afirmou que os retrocessos nos direitos trabalhistas e a paralisação dos programas de habitação popular evidenciam diariamente o processo de golpe no país. Para ele, o governo golpista de Michel Temer (PMDB) representou a ruptura com as políticas públicas para a classe trabalhadora e pobre do Brasil.

“É preciso construir, através do trabalho de base, a unidade da classe trabalhadora e um pacto de resistência entre o campo e a cidade, para além da pauta da habitação, mas de diálogo e concretude do país que queremos construir”, disse.

A presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), a senadora Gleisi Hoffmann, reconheceu limitações na atuação dos governos petistas: “Foi a construção lenta de um mínimo de bem-estar social no Brasil, um pequeno. O que nós conquistamos nesse período foi muito pouco frente às necessidades da população brasileira.”

Hoffmann defendeu três temas fundamentais, desafios para a campanha de um possível terceiro mandato do ex-presidente Lula: a reforma da mídia, a tributação do capital financeiro e a democratização do aparelho de Estado.

“Vamos encarar o desafio”, se comprometeu a presidenta do PT com a plateia de militantes de pessoas, que vieram para o encontro de diversos estados do país.

Com o lema “Nenhum direito a menos: em defesa do direito à moradia popular e da função social da propriedade”, o encontro nacional de movimentos de moradia teve início nesta quinta-feira (3) e se encerra no próximo sábado (5).

Edição: Simone Freire