Entrevista

"Só a luta nos salva", afirma João Paulo Rodrigues, dirigente do MST

Ele apresenta três elementos essenciais para que trabalhadores e trabalhadoras vençam a luta na busca pela democracia

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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Conversa foi apresentada durante o Brasil de Fato Pernambuco
Conversa foi apresentada durante o Brasil de Fato Pernambuco - Catarina de Angola

João Paulo Rodrigues, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conversou com o Brasil de Fato Pernambuco sobre a conjuntura e os componentes da política e economia internacional que influenciaram os rumos na política brasileira que resultaram no golpe.

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Ele apresenta três elementos essenciais para que trabalhadores e trabalhadoras vençam a luta na busca pela democracia e retomada dos direitos.

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A conversa foi feita com a repórter Catarina de Angola, durante o Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores em Pernambuco (CUT-PE), em Caruaru (PE), e veiculada na edição do programa de rádio do dia 05 de agosto de 2017. A locução é de Daniel Lamir e Iyalê Tahyrine. Confira a íntegra:

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Brasil de Fato: Que componentes da crise internacional influenciaram o golpe no Brasil?

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João Paulo: Uma situação internacional também adversa para a classe trabalhadora de retirada de direitos. Com a crise de 2008, os grandes capitalistas reorganizaram a sua forma de exploração no mundo. Então, precisou explorar países emergentes, em especial os países do Brics [Brasil, Rússia, índia e China], em especial o Brasil.

Houve uma agenda de retirada de direitos, por isso uma agenda da reforma trabalhista e previdenciária e a necessidade de privatização, tanto do ponto de vista dos recursos naturais, como petróleo, energia, florestas. E, no caso brasileiro, uma situação mais grave ainda é a privatização das terras para passar para o capital internacional. E por fim, uma agenda conservadora do ponto de vista da política. Todos esses componentes têm influenciado na luta política no Brasil.

A parte boa e contraditória é que também há muitas lutas e resistências na América Latina, na Ásia, na própria Europa, os trabalhadores estão indo para cima. O capitalismo não tem dado alternativas para suas crises, ou seja, tem se afundado em vários lugares do mundo. Evidentemente que num caso ou outro eles têm sucesso mas, na sua grande maioria, têm problemas. E do nosso campo há uma disponibilidade de luta, de fazer enfrentamento.

Construir alternativa de governo popular, como é o caso da Bolívia, do Equador, como foi o caso aqui no Brasil, e ao mesmo tempo construir uma agenda que possa não só resolver os problemas da economia, mas também da política, enfrentar o racismo e enfrentar a homofobia. Então são temas internacionais que influenciam o Brasil e acho que também vão nos servir para fazer uma luta a nível internacional.

Quem são esses sujeitos que compõem a bancada golpista?

De modo geral, a classe média foi quem formou uma geração de golpistas, em especial a que está no serviço público, no judiciário, que tem tido uma ofensiva grande; os meios de comunicação capitaneados pela Rede Globo e, claro, os grandes deputados da bancada ruralista, da bancada da bala e, pasmem, da bancada evangélica. Historicamente, os evangélicos foram progressistas, por vários temas da política, em especial nos Estados Unidos e na Europa. E no caso do Brasil é uma tragédia, retrocesso. Essas três bancadas juntas têm 350 deputados. São eles que fazem a reforma e eles que fizeram o golpe. Eles são os sujeitos do golpe no Brasil.

E para enfrentar isso, que caminhos seguir?

Há três grandes caminhos. Primeiro, organização dos trabalhadores: nós temos que chegar aos camponeses, aos operários, ao povo pobre do Brasil. Eles têm que ouvir a nossa fala e não a fala da Rede Globo. Então isso tem que ter um processo organizativo mínimo.

Segundo, ter um projeto que nos dê unidade. Eu preciso defender a mesma coisa que a CUT [Central Única dos Trabalhadores], que a Marcha Mundial das Mulheres, que os estudantes, que os Sem Terra. E isso tem que se consolidar, tem que ser elaborado coletivamente.

Por fim, luta. Só a luta nos salva. Nós temos que enfrentar, e a luta está num patamar de conflito. Mas nós temos que organizar o conflito, se não nós podemos perder companheiros presos, porque eles [golpistas] são raivosos e vão tentar nos criminalizar.

Edição: Monyse Ravena