Enem

Conheça a história de Sol: potiguar, mãe e universitária cotista aos 35 anos

Solange conheceu o ex-presidente Lula durante a passagem dele por Currais Novos (RN)

Brasil de Fato* | Currais Novos (RN) |
Sol participou do ato realizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã desta segunda-feira (28)
Sol participou do ato realizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã desta segunda-feira (28) - Júlia Dolce

Solange Saldanha é estudante de letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), do campus de Currais Novos (RN), cidade do sertão do Seridó potiguar. “Eu entrei na universidade com 35 anos de idade e não foi por conta de competência intelectual, mas por falta de oportunidade mesmo. Entrei pelo sistema de cota e sou extremamente grata às políticas públicas que foram implementadas na gestão petista”. Sol, como é conhecida, participou do ato realizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã desta segunda-feira (28), no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em função da passagem da Caravana “Lula pelo Brasil” na cidade.

“Eu tive uma infância muito complicada, nunca passamos fome, mas trabalhei desde pequena. Meu pai era minerador e depois foi ser feirante. Eu vendia com ele na feira. Depois ele foi ser pescador e eu sempre vendia peixe com ele. Essas coisas foram me distanciando do acesso à educação”, conta. Sol casou ainda adolescente, teve três filhas e adotou mais uma. É mãe de quatro meninas de 21, 17, 15 e 4 anos. Sobre o relacionamento ficaram as lembranças da violência psicológica e patrimonial. 

“Quando o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) se tornou a forma de ingresso na universidade, eu resolvi concorrer. No segundo ano que eu fiz Enem consegui passar no curso de letras, fiquei muito feliz, porque eu já tinha um gosto pela literatura e pela poesia. Para mim foi perfeito entrar no curso de letras, foi na minha cidade, e eu não precisava sair e deixar as meninas por muito tempo”.

Quando Sol ainda estava no primeiro ano do curso, veio a separação. Foi também nesse período que a Universidade se abriu como um leque para ela tanto na perspectiva profissional quanto política. “Fui passando a entender as violências que sofria, a partir das leituras e do envolvimento com o movimento estudantil, e depois com o movimento feminista”.

Hoje, Sol é militante da Marcha Mundial das Mulheres, e sua aproximação com a organização feminista se deu quando começou a identificar na sua realidade a ação do machismo e do patriarcado. “Comecei a identificar essas realidades na minha vida e a querer me libertar delas. Esse tipo de libertação a gente só consegue através do conhecimento. Lula falou isso aqui em Currais Novos e eu me vejo muito dentro dessa fala”.

Sol conta que hoje em dia as cinco mulheres da sua casa se organizam para cuidar umas das outras. “Como eu tenho duas meninas que são mais velhas, uma com 21 e outra com 17, e até mesmo a de 15, a gente consegue revezar as atividades. O pai compartilha a guarda da pequena que é a que mais depende de mim”. Sol trabalha na biblioteca de uma escola pública. “Adoro ler e meu livro preferido é a Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga. Eu vejo na personagem que guarda os sonhos dentro da bols; muitos são os meus sonhos”.

Com 38 anos, ela é colega da filha mais velha que também é cotista e estudante de letras na UFRN. Sobre o que sonha para o futuro, Sol não titubeia: “conseguir colocar minhas filhas num patamar educacional que elas consigam independência profissional e financeira. Se eu morrer e deixá-las prontas nesse sentido eu vou estar muito realizada”.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque