Movimento sindical

Desafio de eleições em 2018 será evitar que modelo de Temer se perpetue

Durante a 15ª Plenária da CUT, embaixador Samuel Guimarães afirmou que Temer trabalha apenas para o capital estrangeiro

|
Para Felício (de pé), atual tributação brasileira impende a imposição da hegemonia do Estado contra o capital
Para Felício (de pé), atual tributação brasileira impende a imposição da hegemonia do Estado contra o capital - Divulgação/CUT

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães afirmou nesta segunda-feira (28), em São Paulo, que impedir que o modelo de governo adotado por Michel Temer, de inspiração neoliberal e contra a soberania do país, se perpetue será o principal desafio do campo progressista nas eleições do ano que vem. Guimarães elencou três pontos como partes desse desafio. Disse que é preciso "ganhar as eleições de 2018, com Lula, senão esse atual modelo se perpetuará". A "segunda tarefa" é desfazer a Emenda Constitucional 95, que estabelece um teto para os gastos públicos. "Não adiantará fazer nenhum programa social enquanto ela existir", defendeu. E o terceiro ponto é a luta contra a política de juros, "onde está todo o processo de concentração de riqueza e renda".

Pinheiro Guimarães falou aos trabalhadores que participaram da abertura da "15º Plenária/Congresso Extraordinário e Exclusivo da CUT: 100 anos depois... A luta continua! Nenhum Direito a Menos". O evento inicial contou também com a participação do presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), o professor brasileiro João Felício – ex-presidente da Apeoesp e da CUT –, e do jornalista Luis Nassif.

Para Felício, a situação mundial é de resistência dos movimentos sindicais, já que há poucos governos pelo mundo ligados ao campo social. Diante desse desafio e da atual revolução industrial em curso, também chamada de Indústria 4.0, as centrais devem aprimorar sua organização.

"Com a revolução industrial e rapidez do capital, eles se desenvolvem melhor do que o sindicato. Será que o sindicato, como está organizado, consegue acompanhar? No futuro, só aumentará o número de prestadores de serviço. Como você consegue organizar sindicalmente esse cidadão? Com os meios de comunicação que temos hoje é muito difícil. Se hoje já é difícil o processo de comunicação com o trabalhador individualizado, imagina mais para frente. Esse é o desafio da conjuntura do futuro", alerta.

O diplomata lamentou a destruição feita pelo governo Temer no setor trabalhista. "O mercado de trabalho será como antes, sem regra nenhuma, sem nenhum poder de fiscalização ou proteção aos trabalhadores. Nem os sindicatos poderão proteger, nem a Justiça. Esse será o país que querem construir, exportador de produtos minerais e de importação do capital financeiro", afirma. "Esse governo é a favor do capital estrangeiro, ele é estrangeiro. Todas as concessões aos capitais internacionais são feitas", acrescenta o embaixador.

Para Luis Nassif, o governo, ao saber que "não terá dia seguinte na política", trabalha para deixar a terra arrasada. "Aqui estão desmontando, quanto mais desmontado é mais fácil apresentar alternativas neoliberais. Deixam os deputados roubarem o que querem, mas que aceitem as reformas. Esse projeto não é aceito em eleição. Esse pessoal não tem compromisso com o país, é bandidagem pura."

Falta de hegemonia

Outra mudança que deve ser feita, segundo o presidente da CSI, é a imposição do Estado para criar uma hegemonia sobre o capital, pois há um "exército à disposição do capital".

"São pessoas de prontidão para substituir outras em um posto de trabalho. Se você somar essa massa reserva, com os precarizados e os desempregados é um número extremamente grande, que pode aumentar e criar uma convulsão social. Para mudar isso, temos que deixar de ser meros receptores dos países de primeiro mundo. Temos que criar nossa tecnologia, mais postos de trabalho", diz.

João Felício também chama a atenção para a questão tributária, que impede a imposição da hegemonia do Estado. "Como vamos preparar o Estado de qualquer país da América Latina com uma elevada concentração de renda, com aqueles 5% (da elite) que não pagam imposto, com o capital que paga pouco imposto? Isso retira a capacidade de fazer políticas públicas. Como vamos enfrentar a revolução industrial com o Estado quebrado? Não tem como."

Pinheiro Guimarães acrescenta que isso se dá pela execução, por parte do governo Temer, do neoliberal e antigo Consenso de Washington. "É uma democracia que está a serviço dos quatro cavaleiros das trevas: este governo, a elite, o Judiciário e a grande mídia", critica.

Saídas

Para o movimento movimento sindical, a saída é unir as reivindicações trabalhistas com uma politização do trabalho. "Senão, a massa não vai entender o que são essas reformas, não sabem o que é luta de classes. Com aquele Congresso não é fácil mudar, mas o mundo sindical é a única organização que pode enfrentar tudo isso. É uma conjuntura tão difícil, que precisamos radicalizar mais as nossas ações", afirma Felício.

Edição: RBA