Jogo Democrático

Oposição venezuelana abandona violência e realiza eleições primárias

Partidos opositores escolheram os candidatos que vão disputar a eleição a governador, que acontece em outubro

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Candidatos de partidos que aderiram à violência política recebem menos votos dos opositores venezuelanos
Candidatos de partidos que aderiram à violência política recebem menos votos dos opositores venezuelanos - Reprodução

Setores da oposição ao governo do presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, voltaram a apostar na via democrática e realizaram eleições primárias, no último domingo (10). Opositores de 18 partidos políticos que compõem a Mesa da Unidade Democrática (MUD) – coalizão que agrupa os principais partidos opositores – participaram do pleito, que é prévio às eleições para governadores, que acontecerão em outubro.

Apesar de criticarem o processo eleitoral e se recusarem a participar da última eleição, que escolheu deputados da Assembleia Nacional Constituinte, no final de julho, a oposição decidiu voltar às urnas e abandonar os protestos violentos contra o governo.

O objetivo do grupo opositor é ter apenas um candidato em 19 dos 23 estados venezuelanos, o que aumentaria a possibilidade de fazer frente aos candidatos do partido PSUV, do presidente Maduro. Em três estados e no Distrito Federal não foram realizadas primárias opositoras.

A MUD não divulgou o percentual de participação nas primárias, mas adiantou que, tradicionalmente, a participação dos eleitores fica entre 7 e 15% do total de 18 milhões de votantes. "As primárias foram realizadas para determinar as candidaturas que vão participar das próximas eleições regionais e não para medir o tamanho da oposição", afirmou o presidente da Comissão das Primárias da MUD, Francisco Castro, em entrevista aos meios de comunicação opositores.

No entanto, a imprensa nacional e a internacional reportaram uma baixa participação eleitoral. "Vários centros de votação localizados em Caracas registraram pouca presença de pessoas", informou a agência espanhola EFE. Jornais do interior da Venezuela ligados à oposição, como El Diario de los Andes, El Estímulo, Versión Final e Caraota Digital, noticiaram que em diferentes estados a votação também foi pequena. 

As eleições regionais de governadores estavam programadas para dezembro deste ano, mas, em um acordo com setores da oposição, o governo, a Assembleia Nacional Constituinte e o Poder Eleitoral decidiram, em agosto, adiantar o processo eleitoral. A intenção é levar a disputa das ruas para as urnas e acalmar a situação política.

Cenário opositor

O partido Ação Democrática, parte da MUD, liderou o processo eleitoral em dez estados e volta a ter destaque nacional. Este é conhecido como um partido da "quarta república", período em que os partidos oligarcas controlaram o poder por 50 anos, antes do ex-presidente Hugo Chávez chegar à Presidência, em 1998. A Ação Democrática é o mais antigo partido da Venezuela, criado em 1941. 

No entanto, em Zulia, o principal estado do país por ser uma zona petroleira e, consequentemente, ter uma importância econômica, o candidato vencedor foi Juan Pablo Guanipa, do partido Primeira Justiça, que também venceu em outros dois estados. A principal liderança deste partido é Henrique Capriles, que concorreu e perdeu as eleições contra Chávez, em 2012, e contra Maduro, em 2013.

Capriles, porém, perdeu uma disputa interna para outro integrante do partido, o deputado Julio Borges, atual presidente da Assembleia Nacional Venezuelana (ANV), eleita em 2015. Criado no ano 2000, o Primeira Justiça foi o partido opositor mais votado das eleições parlamentares. Obteve 19% dos votos e elegeu 17 deputados.

Os outros partidos opositores variaram entre um e dois candidatos eleitos. Já o Vontade Popular, partido do político opositor Leopoldo López e do vice-presidente da ANV, Freddy Guevara, não ganhou em nenhum estado venezuelano, de acordo com resultados divulgados até o momento. Estes dois líderes políticos, junto a Júlio Borges, do Primeira Justiça, representam a linha mais radical da extrema-direita venezuelana. Em cinco dos 19 estados, os resultados ainda são parciais.

O resultado mostra que partidos mais antigos, que haviam perdido a liderança da direita nos últimos anos, ganharam mais espaço nessas primárias. Por outro lado, partidos ligados a jovens políticos e a grupos radicais que aderiram à violência política saíram derrotados nessas eleições da oposição.

"A Ação Democrática é um partido da velha oligarquia venezuelana e vem se fortalecendo como alternativa política dentro da direita. Inclusive, foi o único partido opositor que não apoiou os protestos violentos. Já os líderes de Vontade Popular e Primeira Justiça chegaram a convocar publicamente as ações violentas. A pouca votação que tiveram nas primárias mostra que seus militantes estão incomodados com isso", aponta a analista política Maria Fernanda Barreto, articulista do site venezuelano Misión Verdad.

As primárias também evidenciaram um racha interno da oposição. No domingo, um grupo de opositores ligados ao grupo La Resistencia, que defendem atos violentos, protestou contra as eleições primárias, em uma manifestação realizada no município de Chacao, na Grande Caracas. Os militantes deste grupo também empreenderam uma forte campanha na internet contra as primárias opositoras. "Não acreditamos na eleição como solução política", diziam algumas das publicações divulgadas por La Resistência.

Edição: Vivian Fernandes