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Bancos e Henrique Meirelles são blindados por Lava Jato, dizem senadores do PMDB e PT

Ministro da Fazenda, que foi presidente do Conselho de Administração da JBS, não é investigado pela operação

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Meirelles em conferência magna sobre o tema Tendências da Economia Brasileira, no 28º Congresso Aço Brasil
Meirelles em conferência magna sobre o tema Tendências da Economia Brasileira, no 28º Congresso Aço Brasil - José Cruz/Agência Brasil

A Operação Lava Jato revelou um verdadeiro escândalo de corrupção e suborno de autoridades do Executivo e do Congresso Nacional envolvendo milhões e milhões de reais, mas até agora nada foi feito em relação ao sistema financeiro, justamente por onde passa todo o dinheiro pago em propina no Brasil e no exterior, como revelam as próprias investigações do Ministério Público. Outro fato que chama atenção é que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que foi presidente do Conselho de Administração da JBS, também ficou de fora das investigações.

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Homem forte do governo golpista de Michel Temer, Meirelles trabalhou na empresa entre 2012 e 2016. A JBS é alvo das investigações, e seus donos, que delataram o presidente Temer e seus aliados mais próximos, estão presos sob acusação de corrupção e uso de informação privilegiada. O ministro está à frente de todas as medidas neoliberais que estão levando ao desmonte do Estado e ao fim dos direitos sociais dos trabalhadores. E, agora, é apontado como o principal candidato à Presidência da República nas eleições de 2018, sob as benções do mercado financeiro e da Rede Globo.

Essa seletividade da Operação Lava Jato foi denunciada, nesta quinta-feira (14/09), pelos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Roberto Requião (PMDB-PR), em discurso no plenário. Em conversa com o Brasil de Fato, o senador do PMDB disse haver lentidão no processo de investigação e que os bancos estão mandando no país. Segundo ele, os doleiros usam o sistema bancário como braço operacional para a transferências do dinheiro sujo e fazem a repatriação, como se o dinheiro fosse dinheiro limpo, sem qualquer investigação por parte do Banco Central, órgão responsável pelo controle do sistema financeiro brasileiro.

“O Banco Central está a serviço dos bancos e eu não sei como o Ministério Público não enxerga isso. Ao invés de agir contra a origem do problema, combatendo a corrupção subalterna. Eu acho que o grande mérito da Lava Jato é ter começado, o demérito é a seletividade e a perseguição a setores ligados ao progressismo e ao nacionalismo, esquecendo esse movimento de globalização do sistema bancário mundial e do fim da soberania do país de uma forma quase absoluta", opina. 

No plenário, Requião usou de ironia para apontar o “mistério” que ronda a Lava Jato por ignorar a participação dos bancos na remessa de dinheiro para o exterior para a lavagem de dinheiro e pagamento de propinas no Brasil e no exterior. 

“O enigma insondável é este: como se pode transferir milhões de dólares, bilhões de reais do país para fora, assim como suprir caixas milionárias em espécie — dinheiro aos borbotões —, transbordando sacolas e malas como se vê nas fotos, sem a cumplicidade de um Banco do Brasil, aqui e no exterior? Peço que os queridos operadores da Lava Jato, Promotores e Promotoras, Delegados Federais consultem suas inteligências para desvelar essa incógnita. Talvez, com algum esforço comum, seja possível que ao final possamos esclarecê-lo”, afirmou.

Um exemplo, citado pelo senador, é o fato de os delatores da JBS e da empreiteira Odebrecht terem denunciado transações fraudulentas que superariam US$ 7,5 bilhões, sem aparentemente deixar rastro algum. O mais surpreendente, acrescenta, é que as denúncias e sentenças proferidas mencionam o crime de lavagem de dinheiro sem citar os bancos. Ao comentar a atuação de Meirelles na JBS, Requião diz que ele foi indicado pela empresa para integrar o governo golpista: “Eu vejo uma proteção explícita, clara a favor das pessoas que estão ao lado fim da soberania brasileira. Não se trata de combate à corrupção, se trata de uma visão entreguista, de uma quinta coluna, que quer acabar com a perspectiva de um Brasil soberano”, afirmou.  

Não há como levar a sério as investigações sem que seja apurada a atuação de Meirelles na JBS. É o que pensa o senador Lindbergh. No plenário, ele ressaltou: “Essa política econômica é desastrosa. E eu me pergunto, quando eu vejo esse escândalo da JBS, envolvendo os irmãos Joesley e Wesley, toda essa confusão na delação no Ministério Público, tantos crimes: quem era o Presidente do Conselho de Administração da JBS, a holding da J&F? Era Henrique Meirelles”. 

O senador petista questionou ainda toda a proteção a Meirelles, que sequer foi chamado a depor mesmo sendo o principal executivo da holding J&S. Lindbergh ainda se indignou com o fato de a mídia comercial omitir a ligação dele com a empresa: “Ele não sabia de nada? Chega! É impressionante a blindagem da imprensa, dos órgãos de comunicação: ‘Não falem do Meirelles, não podem falar do Meirelles’. É no mínimo estranho que o Meirelles não soubesse de nada. Ele não era Presidente do Conselho Fiscal, ele era Presidente do Conselho de Administração. Ele que dirigia. Quando surgiu o escândalo da JBS, vimos a característica dessas corporações. Eles ganhavam dinheiro em várias atividades produtivas, mas estavam ganhando muito dinheiro no câmbio, em aplicação, em títulos da dívida pública”.

Edição: Vanessa Martina Silva