Censura

Justiça proíbe exibição de peça que apresenta Jesus como mulher trans

Para diretora, "afirmar que a travestilidade da atriz representa em si uma afronta à fé cristã" é "negar a diversidade"

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A atriz Renata Carvalho no palco
A atriz Renata Carvalho no palco - Ligia Jardim/Divulgação

Uma decisão judicial impediu a exibição da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu no Sesc Jundiaí, na noite de sexta-feira (15). O monólogo é estrelado pela atriz transexual Renata Carvalho. A decisão impede a apresentação sob pena de multa diária de R$ 1 mil. O Sesc recorreu da decisão.

No texto, o juiz Luiz Antonio de Campos Júnior, da 1ª Vara Cível da Comarca de Jundiaí, em São Paulo, afirma: “De fato, não se olvide da crença religiosa em nosso Estado, que tem JESUS CRISTO como o filho de DEUS, e em se permitindo uma peça em que este HOMEM SAGRADO seja encenado como um travesti, a toda evidência, caracteriza-se ofensa a um sem número de pessoas”.

Na página da peça no Facebook, Natalia Mallo, diretora do espetáculo, destaca o retorno positivo que vem recebdo por parte do público e o necessário debate que tem sido fomentado em torno do assunto e questiona a decisão do juiz. “Afirmar que a travestilidade da atriz representa em si uma afronta à fé cristã ou concluir, antes de assistir o trabalho, que é um insulto à imagem de Jesus é, do nosso ponto de vista, negar a diversidade da experiência humana, criando categorias onde algumas experiências são válidas e outras não, algumas vidas tem valor e outras não. São os discursos e práticas que tornam o Brasil um país extremamente desigual, e um território inóspito para quem vive fora da normatividade branca, cisgênera e heterossexual”.

Ainda segundo Natalia, o espetáculo, escrito por Jo Clifford, “busca resgatar a essência do que seria a mensagem de Jesus: afirmação da vida, tolerância, perdão, amor ao próximo. Para tanto, Jesus encarna em uma travesti, na identidade mais estigmatizada e marginalizada da nossa sociedade. A mensagem é de amor. Mas é também queer e provocadora. Não é comportada nem se deixa assimilar. É de carne e fala de um corpo político, alterado, constantemente violentado e oprimido. Mas também cheio de vida, alegria e potência. A Rainha Jesus contesta a tutela sobre os corpos, o patriarcado e o capitalismo. E abençoa a todos e todas por igual”.

A peça será montada na Capital gaúcha, nos dia 21 e 22 de setembro, dentro da programação do Porto Alegre em Cena.

 

Edição: Sul21