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Artigo | O golpe fundamentalista e a caixa de pandora

O golpe implementado abriu uma "fresta" na história, que tem culminado em um ataque devastador

Brasil de Fato | Recife (PE) |
"É tempo de resistirmos em unidade contra toda essa política excludente".
"É tempo de resistirmos em unidade contra toda essa política excludente". - Foto: UNE/Divulgação

Na mitologia grega, a caixa de Pandora foi uma criação de Zeus. Um artefato em formato de caixa que continha em seu interior todos os males do mundo. A caixa foi dada a Pandora, o motivo pelo qual a mesma leva seu nome e, segundo a mitologia, a curiosidade de Pandora foi tamanha que acabou abrindo a caixa e libertando todos os males, com exceção da esperança, que ficou no fundo da caixa.

O golpe de 2016 implementado no Brasil contra a presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff não se limitou apenas as esferas do executivo e a tomada do cargo pelo presidente golpista Michel Temer (PMDB). A narrativa do golpe foi construída com mãos de ferro por amplos setores do Legislativo, da mídia e, evidentemente, do Judiciário.

Aliás, como diria Romero Jucá, do mesmo partido do presidente golpista: "Temos que estancar a sangria, com STF, com tudo".

Em meio a uma agenda de retrocessos implementada diariamente pelas forças conservadoras da nossa sociedade, não podemos esquecer dois pontos centrais: o primeiro, é de que sempre existiu um forte enfrentamento das forças conservadoras em barrar quaisquer direitos para as LGBT's, mulheres e negras/os no Brasil. E em segundo, que sempre houve luta e resistência de nossa população para impedir o avanço conservador.

Contudo, o golpe implementado abriu uma "fresta" na história, que tem culminado em um verdadeiro ataque devastador dos três poderes as liberdades e aos direitos da população LGBT, negra e mulheres da classe trabalhadora.

No hall de retrocessos, podemos citar o aumento das candidaturas conservadoras e da chamada bancada BBB (bala, boi e bíblia) no Legislativo, a extinção do ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, o projeto de lei Escola sem Partido, o veto ao ensino de gênero e sexualidade nas escolas e, como expressão dos últimos acontecimentos, a decisão do Tribunal de Justiça do DF que autoriza práticas de reversão sexual por parte de psicólogos.

Desde o começo esse golpe foi feito contra nós. Em tempos de crise, cabe ressaltar que os retrocessos atingem também toda a população LGBT, de negras/os e mulheres da classe trabalhadora, e com toda essa onda de conservadorismo, não podemos ter uma avaliação diferente.

Por isso, é tempo de resistirmos em unidade contra toda essa política excludente, tirando a tão necessária esperança do fundo da caixa, e soma-la a luta concreta. Afinal, os males no Brasil nada tem a ver com Pandora, e sim com um golpe que é machista, racista e LGBTfóbico, oriundo das camadas mais elevadas da sociedade, onde moram - todos eles - nos Palácios da Intolerância.

*Gabriel Campelo é diretor LGBT da UNE e militante do Levante Popular da Juventude. 

Edição: Catarina de Angola