Agricultura

Nicão, um guardião de sementes crioulas

"Uma semente crioula evolui junto com os povos que a cultivam para produzir seu próprio alimento", diz assentado do MST

Brasil de Fato | Lapa (PR) |
"Uma semente crioula geralmente ela evolui junto com os povos que cultivavam ela pra produzir seu próprio alimento", diz Nicão
"Uma semente crioula geralmente ela evolui junto com os povos que cultivavam ela pra produzir seu próprio alimento", diz Nicão - Leandro Taques

Cedenir Luiz Biff, Nicão como é conhecido por todos, tem 47 anos e é membro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele participa da Jornada da Agroecologia desde sua primeira edição e conta que ela é terreno fecundo para as trocas de sementes, de experiências e vivências entre agricultores familiares.

"Uma semente crioula geralmente ela evolui junto com os povos que cultivavam ela pra produzir seu próprio alimento. Tem a soberania delas, tu consegue ter o teu próprio alimento tirado da semente crioula, que isso faz parte da evolução nossa, na verdade", diz Cedenir. 

O agricultor está há 19 anos no Assentamento Sétimo Garibaldi, em Terra Rica, noroeste do Paraná. A paixão pela agricultura familiar, livre de venenos é o que move Nicão, que não possui formação acadêmica formal, mas que pesquisa por conta própria e participa de congressos e cursos sobre agroecologia.

"Eu sempre congelo a semente, bem seca, pra cultivar ela. Tem semente que perde a germinação com um ano, devido o calor, aí a gente perde algumas, mas recupera com os companheiros", relata Nicão.

Atualmente, ele está formando um banco de sementes crioulas, além de parcerias com a Universidade Estadual de Maringá para desenvolver pesquisas, promover trocas com outros agricultores e evitar que a tradição se perca:

"Sempre tive interesse por sementes, aonde eu andava sempre ia juntando algumas, no começo era mais difícil. No acampamento não era muito fácil de cultivar, a gente mudava muito de lugar, muito despejo", diz Nicão.

"É uma tradição, uma cultura dos nossos ancestrais que geralmente tá se perdendo com cada geração e o processo ultimamente tá sendo muito rápido. A turma vai muito na onda da mídia, da modernidade, do momento e esquece dessas coisas que são muito importantes", afirma.

Nesta 16ª Jornada da Agroecologia, Nicão conta que recuperou 5 espécies de sementes que estavam perdidas e parabenizou o evento que, segundo ele, está reunindo cada vez mais jovens e primando pela continuidade da agricultura familiar e dos alimentos saudáveis.








 

Edição: Mauro Ramos