Las Vegas

Massacre como dos EUA é raro no Brasil porque porte de arma é restrito, diz analista

Matança em Las Vegas, nos EUA, reacende debate sobre segurança pública e porte de armas de fogo

Brasil de Fato| São Paulo (SP) |

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58 pessoas morreram em massacre em Las Vegas/EUA. Hoje, cerca de 90% da população americana tem algum tipo de arma de fogo
58 pessoas morreram em massacre em Las Vegas/EUA. Hoje, cerca de 90% da população americana tem algum tipo de arma de fogo - ETHAN MILLER/AFP

O acesso às armas de fogo nos Estados Unidos sempre é questionado quando ocorre uma tragédia, como a da madrugada deste domingo (2).

Pelo menos 58 pessoas morreram e mais de 500 ficaram feridas quando um homem abriu fogo contra a multidão que assistia a um festival de música em Las Vegas. Aproximadamente 40 mil pessoas estavam no local. O ataque a tiros é considerado o mais letal da história dos Estados Unidos.

Em conversa com o Brasil de Fato, Guaracy Mingardi, que é analista criminal, faz um paralelo com a realidade brasileira. Ele alerta que casos como o de mortes em massa por armas de fogo, tão comuns nos Estados Unidos, são mais difíceis de ocorrer aqui porque há mais dificuldade para que elas sejam obtidas: "É muito fácil adquirir arma lá. Você consegue adquirir, muitas vezes, sem nem aparecer, podendo encomendar pelo correio".

Ele ressalta ainda que, "quando o número de armas circulando e armas entre criminosos diminui, o número de homicídios também diminui". 

Hoje, cerca de 300 milhões de civis estadunidenses têm armas de fogo, dentro de uma população de 323 milhões, o que significa quase uma arma para cada pessoa no país, como mostra o estudo do Fundo de População das Nações Unidas.

Na recente tragédia estadunidense, testemunhas afirmaram que os tiros vindos de armas automáticas duraram mais de dez minutos sem cessar. O xerife Joseph Lombardo disse que foram encontrados "mais de dez fuzis" no quarto de hotel onde o atirador Stephen Paddock, de 64 anos, estava hospedado.

Nas redes, internautas reacenderam o debate sobre a facilidade de se obter uma arma de fogo nos Estados Unidos e sobre a possibilidade de se autodefender com elas. Mingardi considera que, diferentemente do que prega o senso comum, a probabilidade de uma pessoa ter condição de se defender usando uma arma de fogo em casos de violência é muito pequena. Mesmo policiais treinados têm um alto índice de mortalidade quando reagem a um assalto e estão à paisana, diz o especialista.

Outro ponto observado por ele é que o porte de arma pode ter efeito contrário ao desejado:"Essas armas que as pessoas acham que vão defendê-las não vão servir para isso, na maioria dos casos. As armas vão ser roubadas e cair nas mãos dos criminosos uma hora ou outra. Isso é o que acontece com a maioria das armas".

Por esse motivo, ele alerta para os debates que estão ocorrendo no Congresso brasileiro com o objetivo de revogar o Estatuto do Desarmamento, como propõe o deputado Jair Bolsonaro (PSC):

"Precisamos tomar cuidados para manter a legislação como está, a pressão, o lobby que está havendo com a indústria armamentista em conversa com muitos deputados. Temos que impedir que esse lobby tenha sucesso porque, se depender deles, todo mundo vai andar armado e o número de mortos vai aumentar muito. Qualquer briga de bar ou de trânsito vai ter um morto", diz.

Atualmente, a Lei do Desarmamento (10.826/03) restringe a concessão de porte apenas às categorias profissionais que dependem de armas para o exercício de suas atividades – como policiais, integrantes das forças armadas e guardas prisionais.

Edição: Vanessa Martina Silva