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Símbolo da cena cultural recifense, Teatro do Parque sofre com abandono

Há sete anos sem espetáculos, prédio pode retomar atividades em 2019 se reformas prometidas forem, de fato, realizadas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Com obras abandonadas e em estado de sucateamento, Teatro do Parque faz falta no cenário cultural pernambucano
Com obras abandonadas e em estado de sucateamento, Teatro do Parque faz falta no cenário cultural pernambucano - PH Reinaux

Apesar do seu legado de expressão da vida cultural da cidade do Recife, o Teatro do Parque chegou ao seu centenário de cortinas e portas fechadas. Um dos únicos teatros-jardim ainda existentes no Brasil está desativado há sete anos e segue em reforma com obras paradas. Referência na cidade, seu palco recebeu importantes espetáculos, com participação não só de artistas da terra, mas de todo o Brasil.

O equipamento cultural movimentou a Rua do Hospício durante décadas, graças à sua programação recheada por peças e cinema com ingressos a preços acessíveis. Fundado em 24 de agosto de 1915 pelo comendador Bento Luís de Aguiar, o teatro fazia parte de um projeto inacabado de criação de um Parque de Diversões à moda portuguesa no Centro do Recife. No entanto, o prédio foi fechado em 2010 e segue sem previsão de retorno. 

Neste ano, após audiência pública puxada pelo vereador do Recife Ivan Moraes (Psol), foi criada uma comissão mista responsável por realizar o acompanhamento e fiscalização das reformas necessárias para reabertura do teatro. O grupo é formado por representantes da sociedade civil, Prefeitura do Recife, Câmara Legislativa e Conselho Estadual de Cultura.

De acordo com Ivan Moraes, que integra a comissão, no ano de 2014 foi realizado um contrato de reforma do teatro, por meio de licitação da Prefeitura do Recife. Contudo, alguns meses após realizados os primeiros reparos, a Prefeitura, alegando cenário de crise, deixou de pagar a empresa licitada, que parou as atividades e desfez o contrato. 

Na opinião do vereador, a atual gestão do Recife não tem a política de cultura como uma prioridade. “Os equipamentos culturais, como os museus e teatros, não recebem investimentos da Prefeitura ou estão com graves problemas de orçamento. Então, a gente acredita que havia sim plenas condições da gente já ter o teatro de volta caso sua reforma fosse priorizada”, defende. 

A Prefeitura publicou, há cerca de um mês, um novo edital de licitação para realização de reforma do equipamento físico, que faz parte da primeira fase das obras de reforma do teatro. O edital ainda está com o prazo em aberto e as obras estão previstas em R$5 milhões. A nova meta é que a reestruturação do Parque seja concluída até julho de 2019. A comissão criada ficará responsável por realizar visitas ao teatro e analisar os documentos.

Artistas pernambucanos em defesa do teatro

Desde que fechou suas portas, o Teatro do Parque tem sido pauta de reivindicação dos artistas do estado, que perdeu esse importante espaço de produção e divulgação da cultura popular. Todos os anos, nas datas próximas ao aniversário do teatro, são realizadas mobilizações com o intuito de sensibilizar a opinião pública e relembrar à população os impactos que o fechamento trouxe para o comércio local a vida cultural recifense.

Utilizando da arte como forma de protesto, já foi, inclusive, encenado o velório do Parque, de maneira a denunciar seu sucateamento. Neste ano, devido ao grande engajamento de artistas em todo o Brasil, houve uma Virada Cultural, com mais de 12 horas de apresentações culturais em frente ao prédio do teatro, contemplando as diversas formas de linguagem e expressão.

Na opinião de Oséas Borba Neto, ator e produtor cultural, a sensação que se tem é que, após o trancamento do prédio, toda a cena cultural do Recife ficou órfã. “O Teatro do Parque é um equipamento cultural de extrema importância, porque  congrega todas as artes. Ele tinha orquestra, shows de dança, teatro, cinema...  e, por ser no coração do Recife, ele também era um dos equipamentos mais democráticos da cidade, pessoas de todas as classes sociais iam conferir seus espetáculos e festivais”, completa. 

Em concordância com Oséas, a produtora cultural e professora de teatro Michelli Amorim afirma que “as portas fechadas do Teatro do Parque geram um impacto social, que atinge não apenas aqueles que trabalham com arte e cultura, mas a população em geral”. Nesse sentido, a Guerrilha Cultural e o grupo João Teimoso, coletivos formados por artistas, entregaram um pedido de tombamento do Teatro do Parque na Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Logo em seguida, a Prefeitura do Recife também fez essa mesma solicitação.  
 

Edição: Monyse Ravena