Urnas

Eleições se aproximam na Venezuela; entenda a disputa entre direita e esquerda

Processo que vai eleger 23 governadores venezuelanos conta com a participação de nove partidos opositores

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Essas eleições regionais serão determinante para Venezuela, pois é uma forma de medir forças políticas.
Essas eleições regionais serão determinante para Venezuela, pois é uma forma de medir forças políticas. - AVN

Falta menos de uma semana para partidos da esquerda e da direita enfrentarem-se nas urnas novamente. No dia 15 de outubro, a Venezuela realiza a 22a eleição realizada em 19 anos de governos de esquerda. O campo chavista, agora liderado pelo presidente Nicolás Maduro, ganhou 20 dessas disputas eleitorais.

Nesse processo, a oposição chega com uma derrota eleitoral que sofreu com a participação massiva de oito milhões de venezuelanos na Assembleia Nacional Constituinte, quando os partidos decidiram não participarem e pediram à população para não sairem às ruas para votar.

Além disso, os quatro meses de protestos violentos convocados por partidos opositores criou um ambiente de descontentamento. Isso porque os protestos ocorreram em bairros de classe média alta, ou seja, nos setores da direita. Segundo especialistas, o chavismo acumula um desgaste político provocado pela guerra econômica, o bloqueio internacional e a pressão política das grande potências ocidentais.

Portanto, os dois lados da disputa enfrentam dificuldades. Nesse sentido, essas eleições regionais serão determinante para Venezuela, pois é uma forma de medir forças políticas. É o que afirma o deputado da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano, do partido Ação Democrática, que faz oposição ao governo Maduro. “De maneira indireta essa eleição é uma forma de medir forças. Aqui, em definitiva, o que está em jogo é a paz dos venezuelanos. A eleição é uma maneira de evitar o confrontação de povo contra o povo, evitar uma guerra civil, um derramamento de sangue. Que isso seja feito através de uma saída política, por via eleitoral, constitucional, pacífica. Que o povo venezuelano possa decidir o que ele quer para os próximo anos”, defendeu. Porém, a Assembleia Nacional, controlada por uma maioria opositora, da qual faz parte o deputado, ainda não reconheceu a legitimidade da Assembleia Nacional Constituinte, órgão do Estado que convocou essas eleições.

A Ação Democrática é o partido de centro-direita que manteve um discurso moderado durante os protestos contra o governo. Foi a primeira organização política opositora a dizer publicamente que participaria dessas eleições e que apostava em um saída política. No entanto, por outro lado, seus representantes não compareceram a nenhuma das reuniões da mesa de diálogo entre governo e oposição.

Apesar das contradições, o deputado assegura que seu partido vai reconhecer e aceitar o resultado eleitoral, seja qual for ele. “Claro que temos que reconhecer os resultados, sempre que as coisas forem feitas de maneira correta”, afirmou Edgar Zambrano. Ele disse ainda que acredita na convivência pacífica entre governo e oposição. “Isso é o que acontece em todas democracias, nos países civilizados, e esse é nosso dever. A política não pode ser baseada na guerra, mas sim na força da palavra”, disse o deputado.

No entanto, a deputada constituinte Tania Díaz, um quadro importante do partido governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), afirma que existe uma apreensão do governo de Nicolás Maduro sobre a ação violenta de alguns setores da oposição caso o resultado não seja favorável a eles. “O que pode acontecer depois das eleições é o que tem acontecido tradicionalmente na Venezuela. Eles reconhecem a legitimidade da eleição, participam do processo, mas quando perdem cantam fraude e convocam protestos violentos. Isso é o que tem feito a direita nos últimos anos”, explica Tania Díaz.

A deputada constituinte afirma que existe o temor que se repita erros do passado. “A eleição que ganhou o presidente Maduro, em 2013, não foi reconhecida pelo candidato Henrique Capriles, que cantou fraude e convocou protestos violentos. O resultado foi 11 pessoas mortas. Esse ano, tivemos quatro meses de violência, com mais de 100 mortos. Se depois das eleições, o resultado não favorecer a oposição, não vamos estranhar se a direita venezuelana convocar protestos violentos”, destacou.

Correlação de forças

Em pelo menos 12 dos 23 estados venezuelanos, a disputa vai ocorrer entre dois partidos: o PSUV e o Ação Democrática. Nos outros 11 estados o PSUV concorre com outros oito partidos. Nos dois estados mais importantes em termos econômicos, Zúlia e Miranda, os candidatos opositores são do partido Primeiro Justiça, liderado pelo presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges.Mas, a novidade dessa eleição é a liderança do Ação Democrática, o mais antigo partido político da Venezuela, criado em 1942, e representante da velha direita venezuelana.

O deputado Edgar Zambrano explica que o partido passou por um reposicionamento político no último ano. “Passamos por um processo de recomposição do trabalho organizativo. O número de candidatos que temos nessa eleição é a consequência de haver revisado nosso trabalho”, disse.Ainda que a considerada “velha” direita tenha se reposicionado, adotando um discurso mais moderado, e não partido para o confronto direto com o chavismo como fez o Primeiro Justiça e o partido Vontade Popular, liderado pelo político Leopoldo Lopez, de acordo com Tania Díaz, a base social da esquerda venezuelana supera a direita.

“A direita venezuelana sabe que não tem a hegemonia política do país. Os opositores não têm projeto político e não têm organização comunitária como tem o campo político da Revolução Bolivariana. Qualquer um dos observadores internacionais que vier às eleições regionais vai notar esse deslocamento organizado que realizam às forças políticas da Revolução, incorporando não apenas partidos políticos, como também aos movimentos populares. Isso a oposição não tem”, explica a deputada constituinte.

Edição: Simone Freire