FEMINISMO

Encontro feminista reúne 50 mil mulheres na cidade de Resistencia, na Argentina

Participantes criticaram as políticas do governo Macri, exigiram a libertação de Milagro Sala e a legalização do aborto

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
No encerramento do encontro aconteceu uma grande marcha, onde se ouviam canções feministas pela unidade das mulheres na América Latina
No encerramento do encontro aconteceu uma grande marcha, onde se ouviam canções feministas pela unidade das mulheres na América Latina - Paula Teller

Mais de 50 mil mulheres argentinas participaram do 32º Encontro Nacional de Mulheres, que marca mais de três décadas de organização do movimento feminista no país.

O encontro aconteceu nos dias 14, 15 e 16 de outubro, na cidade de Resistencia, capital da província de Chaco, localizada no norte da Argentina, região considerada pelas participantes como a mais menosprezada pelo Estado.

No encontro, estiveram presentes mulheres trabalhadoras, camponesas, mulheres indígenas que resistem historicamente ao genocídio indígena no país, mulheres negras, militantes dos movimentos populares e de partidos políticos, do movimento estudantil, de associações de bairro. Mulheres migrantes, trans, lésbicas, bissexuais, trabalhadoras de organizações pelo direito à terra e à moradia estiveram reunidas por três dias para discutir as estratégias de resistência feminista e as pautas que unificam a luta.

A militante indígena Ramona, integrante da comissão organizadora do evento, em entrevista à Barricada TV, ressaltou a importância da participação das mulheres indígenas no evento para debater e reivindicar o direito à terra para os povos originários.

Belén Sotelo, dirigente sindical, ressaltou a importância da paridade nas organizações sindicais e direito à creche para que as mulheres possam se organizar politicamente. Sotelo criticou a precarização das condições de trabalho e o desemprego no país que afetam prioritariamente a vida das mulheres.

Já Margarita Meira, vítima do tráfico de mulheres, ressaltou que no país há 27 mil meninas e mulheres desaparecidas vítimas da exploração sexual. Uma delas é Maira Benítez, de 18 anos, habitante do estado de Chaco, que está desaparecida desde dezembro de 2016.

As mulheres presentes no encontro também se pronunciaram contra a prisão ilegal de Milagro Sala e exigiram sua libertação imediata. Milagro Sala é dirigente da organização popular argentina Tupac Amaru e foi condenada pela justiça argentina após participar de uma manifestação contra cortes em programas sociais do país no início de 2016.

No último sábado (14), Milagro, que se encontrava em prisão domiciliar há 44 dias, foi transferida para uma penitenciária sem aviso prévio e sem comunicado aos advogados de defesa.

Majo Gerez, do coletivo Mala Junta e candidata à vereadora na cidade de Rosario pela Frente Social e Popular (FSP), em entrevista à TeleSUR, afirmou que Milagro "está presa por ser mulher pobre e indígena" e "por ser uma mulher que se atreveu a se organizar politicamente".

Na ocasião, Malo Gerez também falou sobre o neoliberalismo e as políticas de ajuste do governo de Macri. "Nós mulheres somos as mais prejudicadas pelas políticas do governo que propõem a volta de um regime colonial, racista e patriarcal. O movimento de mulheres deve redobrar seus esforços para repudiar o que Milagro está vivendo", disse a militante.

Durante a conferência de imprensa do Encontro Nacional de Mulheres, as organizadoras anunciaram a realização de uma assembleia feminista que deve ocorrer ainda esse ano em Jujuy, província localizada no Noroeste do país, onde está localizada a prisão feminina em que está Milagro Sala.

No encerramento do encontro, houve a realização de uma grande marcha nas ruas da cidade, que terminou no Parque da Democracia, onde aconteceram diversas apresentações culturais.

Durante a marcha, se ouviam canções feministas pelo fim da violência sexista, pela legalização do aborto, reivindicação das feministas argentinas desde o 1º Encontro Nacional de Mulheres, que aconteceu em 1986, e pela unidade e solidariedade das mulheres na América Latina.

Edição: Simone Freire | Tradução: Luiza Mançano