Câmara Federal

"MP do Fies é desmonte do programa, e não reforma", denuncia UNE

Medida que será votada na Câmara reduz o número de estudantes atendidos e libera taxa de cobrança de juros

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Em Paraty (RJ), estudantes protestam por melhorias na educação, uma das principais lutas dos segmentos populares no atual governo
Em Paraty (RJ), estudantes protestam por melhorias na educação, uma das principais lutas dos segmentos populares no atual governo - Tomaz Silva/ Agência Brasil

A Medida Provisória (MP) 785, que altera regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), pode ser votada nesta terça-feira (31) no plenário da Câmara Federal. 

Continua após publicidade

Uma das principais mudanças diz respeito à criação de três diferentes faixas de renda familiar em que serão classificados os estudantes. Anteriormente, todos eles pertenciam a uma única faixa, que era de alunos com renda familiar de até três salários mínimos. Além disso, a MP altera as formas de pagamento, o modelo de gestão e as fontes de recurso do Fies. 

Continua após publicidade

As modificações são motivo de preocupação por parte de movimentos estudantis e parlamentares de oposição. A diretora de Políticas Educacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE), Júlia Lozada, afirma que a MP irá reduzir o número de alunos atendidos pelo programa, em especial os estudantes de baixa renda, comprometendo a função social do Fies:

Continua após publicidade

"É um processo de desmonte, e não de reforma. Perpassa não só o desmonte dessa política educacional, mas o desmonte da universidade brasileira e do acesso e da permanência do povo brasileiro nas universidades, retomando aos anos 1990, quando a universidade era um espaço extremamente elitizado, pros filhos das classes mais abastadas", diz.

Continua após publicidade

Outro problema apontado pelos opositores da medida é que a MP não fixa taxa de juros, o que deixa essa definição a critério dos bancos, beneficiando o setor. Atualmente, o financiamento se baseia em taxas baixas, para viabilizar o pagamento por parte dos estudantes. 

Para o líder do Psol na Câmara, Glauber Braga (RJ), apesar de o governo garantir que seriam baixos juros, não seria possível acreditar nessa previsão. 

"O que são juros baixos, por exemplo, pra um governo que estabelece como prioridade o atendimento ao sistema financeiro? Não se pode saber, então, você pode ter um juros cobrado muito acima daquilo que seja considerado razoável", destaca. 

Outro apontamento feito pelos críticos da proposta é que o Fies deixa de ser gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para ser administrado pela Caixa Econômica Federal, passando a ser uma política mais de caráter fiscal do que educacional, segundo aponta o deputado Pedro Uczai (PT-SC). 

Ele critica ainda a liberação do uso de verba de fundos constitucionais - entre eles, o FGTS - para financiar os estudantes de duas das três faixas de renda criadas pela MP:

"É não incentivar os mais pobres a estudar, tirar dinheiro público para os mais ricos, com fortalecimento do setor rentista financeiro brasileiro. Deixou de ser o aluno mais pobre o centro da estratégia da política pública do governo e passou a ser o centro transferir dinheiro público para o setor financeiro", argumenta.

Caso seja aprovada na Câmara, a MP seguirá para votação no Senado. A medida vence no dia 17 de novembro e, parar entrar em vigor, precisa ser sancionada até essa data.

Edição: Camila Salmazio