Judiciário

Análise | Os “apoiadores da Lava Jato” só saem às ruas quando o alvo é Lula?

Repúdio ao ex-presidente foi o que restou das manifestações que pareciam reivindicar o combate à corrupção

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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As investigações avançam, atingem os baluartes do governo Temer, mas os panelaços e gritos em favor da operação duraram só até 2016
As investigações avançam, atingem os baluartes do governo Temer, mas os panelaços e gritos em favor da operação duraram só até 2016 - Marcello Casal Jr / Agência Brasil

A população brasileira parece ter perdido o interesse pela Lava Jato. As investigações avançam, atingem os baluartes do governo Temer, mas não se ouvem panelas nem gritos a favor da operação.

Uma pesquisa rápida na internet ajuda a entender esse fenômeno. As poucas manifestações de apoio à Lava Jato nas ruas, em 2017, coincidem com momentos-chave das investigações contra o ex-presidente Lula.

“Pixulecos” na avenida Paulista na noite da condenação em primeira instância. Uma passeata na semana em que ele é denunciado. Gatos pingados no Museu do Olho, em Curitiba, nas duas vezes em que Lula foi chamado a depor.

Está claro que muita coisa mudou desde o golpe. Algumas máscaras caíram, e vários investigados que defendiam o impeachment já não passam ilesos pela opinião pública. Porém, nada se compara ao ódio contra o petista, pré-candidato à Presidência da República no ano que vem.

Os eleitores de Aécio Neves, por exemplo, o abandonaram, mas não saíram às ruas nenhuma vez para pedir a prisão ou condenação dele. Para milhares de manifestantes de verde-amarelo, o tucano entra no balaio dos “corruptos”, com dezenas de outros políticos que não foram sequer julgados. O mesmo vale para Michel Temer, cuja popularidade despenca a cada nova pesquisa, mas continua legitimado pelo voto de deputados e pelo silêncio dos cidadãos.

Ao que parece, parte do fã-clube do juiz Sérgio Moro aceitaria ver todos os investigados soltos em troca de um preso. Talvez seja ódio de classe, constrangimento por ter apoiado o golpe, ou vergonha por ter votado em Aécio.

Qualquer que seja o motivo, os delegados e procuradores que comandam a Lava Jato devem estar desiludidos. Aqueles que disseram apoiar o combate à corrupção agora assistem calados às compras de votos na Câmara, para que Temer não seja investigado.

Edição: Camila Salmazio