São Paulo

Gestão Doria nomeia militar para a Coordenadoria de Crianças e Adolescentes de SP

Secretaria de Direitos Humanos pede exoneração de Jairo Junqueira, acusado de débitos com administração pública

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Jairo Junqueira foi organizador de exposição sobre Exército do Brasil na Assembleia Legislativa de São Paulo
Jairo Junqueira foi organizador de exposição sobre Exército do Brasil na Assembleia Legislativa de São Paulo - Alesp

* Atualizada às 20h50 para acréscimo de informação oficial da Secretaria de Direitos Humanos

A gestão de João Doria, prefeito da cidade de São Paulo, publicou no Diário Oficial do município na quinta-feira (16), a nomeação de Jairo Junqueira da Silva Filho para a Coordenadoria de Políticas para Crianças e Adolescentes.

Junqueira tem 68 anos e é ex-secretário-geral da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil. Por nunca ter tido vínculo com a área, a nomeação do militar não foi bem recebida por gestores de políticas públicas. 

"É de uma falta de sensibilidade e noção, no mínimo, do ponto de vista técnico, político, não tem explicação por lado nenhum. A não ser essa coisa dele ser filiado, ser militar, ter um histórico de profunda reverência à cultura do Exército. O pai dele foi um dos Expedicionários do Brasil. Eu desconheço qualquer trajetória, do que eu pude encontrar sobre ele, ela é toda vinculada a esse campo de referência ao Exército, à cultura militar", diz Gabriel Medina, ex-secretário de Juventude de São Paulo na gestão Haddad. 

Medina denuncia que a entrada de Junqueira na coordenadoria também coincide com uma série de mudanças na Secretaria de Direitos Humanos de São Paulo. A mais significativa delas é a junção das coordenadorias que tratam de crianças e adolescentes com a de juventude. 

"O que é mais grave ainda porque, na prática, você extingue a área da Juventude, submete ela à Criança e Adolescente e perde, mais uma vez, um acúmulo político importante da construção que vem sendo feita, que diferencia essas duas áreas, inclusive com estatutos próprios", relata. 

A Coordenadoria para Crianças e Adolescentes é responsável por organizar toda a política para a área e executar ações de defesa dos direitos das pessoas de zero a 18 anos incompletos, em parceria com as secretarias da Educação, da Assistência Social, da Saúde e do Esporte.

Segundo Daniel Souza, ex-presidente do Conselho Nacional de Juventude, a nomeação de Junqueira para o cargo representa o perfil da gestão Doria, calcada no marketing. 

"Essa nomeação ela tem uma coisa de fundo que representa o próprio governo do Doria, uma política transformada em marketing, de uma política que é marcada por retrocessos e desmonte de política pública. Me parece estranho e é simbólico isso, que seja alguém com 68 anos, um militar, para assumir a coordenadoria de Juventude. Simbolicamente parece ampliar essa ação da cidade de São Paulo, como um projeto de segurança, de militarização da vida, dos territórios, especificamente da juventude, que é a que mais morre, especialmente a juventude pobre e negra das periferias", analisa. 

Junqueira também é acusado de manter dívidas com a prefeitura de São Paulo. Entre 2005 e 2008, quando presidia o Instituto de Estudos e Pesquisas em Tecnologia Social, Educação, Cultura e Desenvolvimento Urbano (ITED), o militar fez uma série de convênios com diretorias regionais de ensino da cidade, para formação de educadores. 

Por não prestar contas, a ONG foi inscrita no Cadastro Informativo Municipal (CADIN), que impede novos contratos com a administração pública. A irregularidade ainda está pendente mas, mesmo assim, a gestão Doria publicou o nome do militar para a coordenadoria. 

* Atualização: Em nota, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania informou que pediu a exoneração de Jairo Junqueira da Silva Filho da Coordenação de Políticas para Crianças e Adolescentes e Políticas para a Juventude nesta sexta-feira, 17 de novembro. No comunicado, a secretaria diz que desconhecia "até a presente data, os apontamentos do CADIN envolvendo a referida pessoa".

Ainda segundo a secretaria, o pedido tem como objetivo "realizar a melhor gestão possível" e, por isso, "não pode admitir em seus quadros funcionais pessoas com quaisquer pendências administrativas - daí a necessidade da exoneração".

Edição: Camila Salmazio