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Eleição presidencial consolida frente de esquerda como 3ª força política no Chile

'O Chile quer mudanças e mais de 1,2 milhão de pessoas votaram pela mudança', disse Beatriz Sánchez, em discurso

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Beatriz Sánchez ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais do Chile
Beatriz Sánchez ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais do Chile - Patricio Alarcón/Flickr CC

A coalizão de esquerda Frente Ampla (FA) obteve neste domingo (19) um resultado além do esperado por analistas e previsto pelas pesquisas, ficando a poucos votos de passar para o segundo turno com o ex-presidente Sebastián Piñera e se consolidando como terceira força política no Chile.

Com 99,04% das urnas apuradas, Piñera ficou em primeiro, com 36,64% dos votos, seguido pelo candidato de Bachelet, Alejandro Guillier, que ficou com 22,70%, e Beatriz Sánchez, da Frente Ampla, com 20,27%. As pesquisas indicavam que Sánchez não chegaria a 20%.

Além do expressivo resultado na eleição para presidente, a Frente Ampla também conseguiu um bom número de cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado. Segundo o Servel (Serviço Eleitoral do Chile), a FA elegeu um senador e 20 deputados, efetivamente se tornando a terceira força na Câmara Baixa (atrás da Chile Vamos, de Piñera, que terá 73, e da Nova Força da Maioria, que apoia Guillier, com 43).

A origem da Frente Ampla guarda certa relação com a Nova Maioria - que, por sua vez, é descendente da Concertação, responsável por juntar a Democracia Cristã, o Partido para a Democracia (PPD), o Partido Radical Socialdemocrata (PRSD), o PS (Partido Socialista) e outros menores na época do plebiscito que decidiu pela saída do ditador Augusto Pinochet.

Entre 1990 e 2010, todos os presidentes chilenos saíram desta coalizão: Patricio Aylwin, Eduardo Frei (democratas-cristãos), Ricardo Lagos e Michelle Bachelet (socialistas). A sequência só foi interrompida com a eleição de Piñera, em 2010, e a Concertación foi para a oposição.

Em 2013, novos partidos se juntaram à coalizão e formaram a Nova Maioria: Esquerda Cidadã, Partido Comunista e Movimento Amplo Social. Rebatizado, o grupo de partidos levou Bachelet novamente ao governo.

Surgimento

Em janeiro de 2016, a Revolução Democrática (RD), fundada pelo deputado Giorgio Jackson, e a Esquerda Autônoma, do também deputado Gabriel Boric (ambos reeleitos no domingo), entregaram seus cargos no governo Bachelet, anunciaram um distanciamento da Nova Maioria e fundaram a Frente Ampla, que se inspira na sua versão uruguaia e diz querer ser uma alternativa de esquerda aos atores tradicionais da política do país.

Um ano depois, a Nova Maioria teve um novo racha: a Democracia Cristã decidiu não participar das primárias da coalizão e lançou candidata própria – a da líder do partido, Carolina Goic, que terminou com 5,88%. Guillier passou a ser apoiado pela coalizão Nova Força da Maioria, da qual fazem parte o Partido Comunista, o PPD, o PRSD e o PS.

Os resultados do domingo mostram que os eleitores penderam para o flanco mais à esquerda da antiga Nova Maioria, seja votando em Guillier, de centro-esquerda, seja votando em Sánchez, de esquerda. Combinados, os dois obtiveram quase 43% dos votos – o suficiente para superar Piñera, por exemplo.

Mudança

“O Chile quer mudanças e mais de 1,2 milhão de pessoas votaram pela mudança”, afirmou Sánchez em seu discurso após o resultado.

Ela disse que enfrentou uma concorrência desigual. “Havia um candidato que gastou seis vezes mais que nós, dez vezes mais que nós. Aqui houve trabalho, seriedade, porque aqui houve coerência, porque houve convicção, porque o fizemos de maneira honesta, não quisemos enganar ninguém”, disse.

Edição: Opera Mundi