Podcast

Cervejaria Feminista homenageia militante comunista Maria Prestes

Companheira de Luiz Carlos Prestes virou rótulo de cerveja artesanal

Ouça o áudio:

Memórias de Maria Prestes serviram de inspiração para criação da cerveja que leva o nome dela
Memórias de Maria Prestes serviram de inspiração para criação da cerveja que leva o nome dela - Divulgação/ André Mantelli
Companheira de Luiz Carlos Prestes virou rótulo de cerveja artesanal

Cerveja também é coisa de mulher. E, cada vez mais, produzir a bebida também se torna uma prática comum entre elas. Essa é a intenção das cariocas Andreia Prestes, Maria Antônia Goulart, Maura Santiago e Clarissa Cogo, que criaram a Cervejaria Feminista.

A marca idealizada e tocada pelas quatro mulheres homenageia ícones femininos de resistência. A primeira delas é justamente a avó de Andreia, Maria Prestes, companheira de Luiz Carlos Prestes, líder do PCB, o Partido Comunista Brasileiro. Na última semana, Maura, Andreia e Maria Prestes estiveram em Belo Horizonte para o lançamento da cerveja, no Armazém do Campo, a nova loja de produtos agroecológicos do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

A produção da cerveja, desenvolvida pelo grupo e feita em parceria com uma microcervejaria, levou Maria Prestes novamente ao passado, resgatando suas andanças pela União Soviética, ao lado de Luiz Carlos Prestes. Foi lá que, segundo ela, “experimentou a melhor cerveja de sua vida”.

"Eu sempre discutia, conversava em casa com meus netos, minha netas, sobre as viagens que eu fazia quando morava na antiga União Soviética. Em uma das minhas visitas à Tchecoslováquia, quando eu estava já perto de vir embora, eles me perguntaram se eu não gostaria de experimentar a cerveja tcheca. Eu disse para ela [Andreia Prestes]: 'até hoje eu ainda me lembro do sabor da cerveja que eu tomei lá e considero ela uma das melhores cervejas que eu já tomei, durante o meu período de vida, até hoje", recorda.

A cerveja foi criada com base nas lembranças da avó, como conta Andreia Prestes. "Então a gente convidou a Maria Prestes, minha avó, para fazer essa cerveja pielsen. E para gente a produção da cerveja é um processo de memória interessante, porque são vários encontros com ela, para falar de cerveja, para falar da memória dela em cerveja. E aí ela falou muito da cerveja que ela lembrava que bebia na época do exílio, que ela fala que foi um dos melhores períodos da vida dela, quando ela conseguiu reunir a família toda".

Andreia lembra também que, além de homenagear ícones da luta feminista, a Cervejaria é uma oportunidade de romper com o monopólio machista que domina o mercado de cervejas no Brasil. "No Rio de Janeiro também está crescendo muito essa questão da cerveja artesanal. A gente começou a participar de uns grupos e viu que era um ambiente muito machista. E aí a gente começou a pensar como a gente pode trazer essa questão da discussão feminista para esse mundo da cerveja, de uma forma inovadora. Daí surgiu a ideia da cervejaria feminista, de trazer nomes de mulheres", ressalta.

A iniciativa da neta e das sócias é elogiada por Maria Prestes. Ela destaca que trabalhos como o da Cervejaria Feminista dão força à luta das mulheres."Uma maneira de você prestigiar os movimentos de mulheres é ressaltando a personalidade das mulheres e incentivando para que elas não se intimidem e participem da vida, reconhecendo os seus direitos na sociedade em que vivemos. As mulheres têm muita importância nisso. Hoje nós temos mulheres senadoras, deputadas, vereadoras, que antigamente nós não tínhamos esse direito. Hoje as mulheres conquistaram esse espaço. Nós temos mulheres promotoras, juízas, advogadas", conclui.

Além de Maria Prestes, a Cervejaria Feminista homenageou recentemente Conceição Evaristo, escritora mineira e militante do movimento negro. As duas cervejas artesanais podem ser encontradas nas unidades do Armazém do Campo em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Edição: Camila Salmazio