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Mas o que afinal chamamos de consumismo?

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Black Friday: um dia com forte estímulo às compras com a justificativa de descontos e promoções
Black Friday: um dia com forte estímulo às compras com a justificativa de descontos e promoções - Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas
Precisamos repensar o nosso modelo de consumo e de necessidade

No último dia 24 de novembro aconteceu a tão falada Black Friday. Você a conhece? Provavelmente sim. Mas caso não faça ideia do que estou falando, o termo surgiu nos Estados Unidos e se refere hoje a um dia com forte estímulo às compras com a justificativa de descontos e promoções.

Trago este tema porque ele nos possibilita falar sobre consumismo. Não em cima de conceitos acadêmicos e abstratos, mas basicamente na forma como o sentimos e como está presente no nosso dia-a-dia. Mas o que afinal eu chamo de consumismo? Me refiro ao um modo de vida direcionado ao consumo cada vez maior de bens ou serviços, mesmo que em grande parte desnecessários.

Obviamente que com estas pontuações, a minha intenção não é a crítica a quem consome. Na realidade, há uma grande máquina de propaganda que ocupa os mais diversos meios midiáticos e que nos martela o juízo o tempo inteiro nos falando para comprar, para consumir e para comprar cada vez mais.

E os mecanismos para a propaganda do consumo são muitas vezes cruéis. Ou não são cruéis, por exemplo, as mais diversas propagandas direcionadas para criança pedindo para que consumam produtos que muitas vezes a família não terá condições de comprar? Isto se torna muito pior em um contexto em que ainda reina a desigualdade social. Basta pensar que as oito pessoas mais ricas do Brasil possuem mais dinheiro que os 100 milhões de brasileiros e brasileiras mais pobres. O mesmo vale para outros países, como os Estados Unidos, onde se vende uma imagem de que todos podem viver bem, mas na realidade, mais de 46 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.

Mais do que nunca precisamos repensar o nosso modelo de consumo e de necessidades. Entretanto, a saída não é apontar o dedo e culpar as pessoas individualmente pelo consumo, ou até pelo excesso deste. Precisamos de saídas coletivas para este grande problema coletivo. Precisamos mais ainda de uma vontade política direcionada para o bem comum. Não posso apenas pedir que as pessoas usem menos carro, se não houver transporte público de qualidade. Não posso pedir que as pessoas comam mais alimentos saudáveis, se não houver estímulo público à produção saudável. Os exemplos são muitos. Mas repensar o nosso modelo de consumo é urgente. Não de forma isolada, mas dentro de um projeto maior de desenvolvimento político, econômico e social.

Edição: Monyse Ravenna