Pará

Após violência, famílias sem terra do acampamento Hugo Chávez vão resistir a despejo

Decisão foi tomada depois de mais um ataque de pistoleiros; medida judicial está marcada para quarta (13)

Brasil de Fato | Belém (PA) |

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Direção estadual do MST divulgou nota e responsabilizando governos estadual e federal caso ocorra tragédia com famílias sem terra
Direção estadual do MST divulgou nota e responsabilizando governos estadual e federal caso ocorra tragédia com famílias sem terra - Lilian Campelo

Depois de mais um episódio de violência, as famílias sem-terra do acampamento Hugo Chávez, localizado na zona rural de Marabá, no Pará, decidiram que não irão mais cumprir a ação de despejo que está marcada para a próxima quarta-feira (13).

A decisão foi tomada depois que homens armados chegaram em caminhonete e atiraram contra os camponeses. A violência ocorreu na última segunda-feira (11). Cleudimar Souza, do MST, narra os momentos de tensão vividos durante o ataque: “Eles [homens armados] não estão respeitando nem as crianças que estão aqui. Eu tive que correr com meus filhos de dentro da minha casa, meus filhos estão desesperados”.

Cleudimar é casada com o dirigente estadual do MST Manoel Souza. Ele também estava no momento do ocorrido. Em entrevista ao Brasil de Fato, ele informou que os jagunços chegaram entre 17h e 18h e passaram a monitorar quem entrava e saía do acampamento.

“As famílias estão revoltadas porque, na verdade, o despejo era para a gente sair naquela data amigavelmente, dia 13, que é na quarta-feira. A gente estava, na verdade, arrumando as coisas para pode sair amigavelmente”, afirmou.

O episódio ocorreu dois dias antes do cumprimento da ação de reintegração de posse em favor do fazendeiro Rafael Saldanha de Camargo. O militante do MST conta que, diante do ataque, as famílias decidiram que não vão mais sair da fazenda Santa Tereza, onde o acampamento está instalado.

O acampamento foi ocupado pelas famílias no dia 8 de junho de 2014 e vem sendo alvo de consecutivos episódios de violência. Questionados pela reportagem, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Delegacia de Conflitos Agrários do Pará informaram que estariam se dirigindo até o local para apurar mais informações sobre o ocorrido. Ulisses Manaças, da direção nacional do MST, informou que até o momento do fechamento da edição, os dois órgãos não compareceram até o local.

A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) afirmou que tomou conhecimento do fato e recebeu duas versões: uma dada pelas famílias sem terra e outra da proprietária da fazenda Santa Tereza, que ao voltar de Marabá teria sido “cercada por várias pessoas e ameaçada”.

Souza conta que muitas famílias passaram a noite acordadas com medo de uma nova ação dos pistoleiros. Pai de quatro filhos, ele diz que o sentimento que fica é de revolta.

“O que a gente sente hoje é desprezo do Estado. A gente está muito aflito, com medo. Como pai de família, estou revoltado com a Justiça que hoje nós temos. Na nossa cabeça, temos essa questão: não temos para onde ir, o que nós temos hoje, é a convicção de resistir. Resistir no acampamento porque não temos para onde ir”.

A direção estadual do MST divulgou uma nota dizendo que o movimento decidiu suspender o desmonte do acampamento. No texto, a organização ressalta que, caso aconteça alguma tragédia no local, a responsabilidade será dos governos estadual e federal.

Na quarta-feira (13), haverá uma manifestação às 8h em frente ao Fórum de Marabá contra os despejos e a violência no campo.

Edição: Vanessa Martina Silva