Clima

"Geoengenharia é extremamente perigosa", afirma pesquisadora do clima

Maureen Santos, da Heinrich Böll, participou da COP 23, na Alemanha, e aponta que o tema já foi pautado na Conferência

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Para Santos, geoengenharia ainda é “solução extremamente perigosa, que pode alterar definitivamente o sistema climático do planeta”.
Para Santos, geoengenharia ainda é “solução extremamente perigosa, que pode alterar definitivamente o sistema climático do planeta”. - IISD Reporting Services

A geoengenharia é uma ciência que tem tentado encontrar maneiras de manipular o clima através da tecnologia. Ela vem ganhando mais terreno nos espaços de diálogo do clima, entre eles, a Conferência do Clima de Bonn, na Alemanha, realizada em novembro deste ano.

No entanto, especialistas têm criticado e olhado para a iniciativa com receio. Maureen Santos, coordenadora de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil é uma delas.

Para ela, a geoengenharia é uma coisa muito grave, que não pode ser tratada como brincadeira de laboratório, uma vez que pode alterar definitivamente o sistema climático do planeta.

Em entrevista concedida ao Brasil de Fato, a coordenadora da Fundação Heinrich Böll comenta ainda sobre os resultados da Conferência do Clima e alerta para a posição brasileira, em risco, por conta de pressões de empresas que estariam interessadas em explorar regiões da Amazônia Legal.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato: As discussões sobre a geoengenharia já começaram a ser pautadas nos encontros do Clima mundo a fora. Como o tema foi tratado na Conferência do Clima de Bonn?

Ela não entra dessa forma, já como uma proposta concreta. O que tem são propostas de discussão dentro das negociações. Isso aí é uma das grandes discussões para produzir o que eles chamam de emissões negativas. A COP teve vários eventos sobre isso.

Então acaba que vários desses eventos tem o objetivo de influenciar a negociação [do Acordo de Paris]. Várias empresas, alguns setores da academia. E alguns países acham que somente com a adoção desses modelos, com algumas soluções de geoengenharia em nossas florestas, que poderiam controlar essas emissões e, com isso, você chegar a média da temperatura global.

Mas quais os riscos da implantação da geoengenharia como alternativa para os efeitos da alteração do clima?

Você tem vários riscos. Os riscos ecológicos são diversos em relação à questão da gestão da radiação solar, que na verdade, se for aplicada em escala mundial, seria fazer isso no meio ambiente, e isso seria uma pulverização de partícula na estratosfera, ou modificação artificial de nuvens.

Essa tecnologia pode causar alguns danos irreversíveis na própria questão da precipitação, prejudicar a camada de ozônio, comprometer meios de subsistência e pode ter um impacto na agricultura por causa da precipitação. Então já têm vários estudos que vêm dizendo potenciais impactos, mas são experimentos que ainda estão em teste.

É possível mensurar quando isso começou a ser pautado como opção para redução dos danos climáticos?

O debate de geoengenharia não surgiu na Conferência de Clima, surge na Conferência de Diversidade Biológica, na CDB. Em Clima, diferente da CDB que é vista como algo negativo, ela é vista como algo positivo. A ideia de você tentar neutralizar esse efeito negativo das mudanças climáticas, já que as ambições dos países ainda vão demorar a chegar e o debate do clima traz muito essa coisa da urgência, acaba gerando um apelo maior para esse tipo de solução.

Queria que você falasse um pouco sobre a Conferência e quais as impressões que você teve sobre o Acordo de Paris.

Claro que tem um debate político, e para nós é muito caro, que tem a ver com a manutenção da posição brasileira sobre florestas fora do mercado de carbono. E isso, obviamente permeou as duas semanas, foram os grandes embates entre as pessoas que estavam lá, não só entre a própria sociedade civil, mas entre vários setores que estavam com essa posição de mudar os estados da Amazônia Legal, mudar a posição brasileira.

Mas do ponto de vista da negociação, se a gente for pensar que os Estados Unidos, que é o segundo maior emissor, anunciou que vai sair do acordo, houve todo um receio de ter uma debandada e vários países seguirem esse ritmo dos Estados Unidos. Isso não aconteceu.

Essa COP, assim como foi a do ano passado, foi exatamente para avançar no livro de regras, que vão dizer a ambição, os processos, como é que as negociações devem funcionar dentro do Acordo de Paris. Teve um rascunho, saiu o tal do Draft, dentro da decisão final.

Edição: Simone Freire