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Mangueirinha

Segundo reassentamento de atingidos por barragens do Paraná completa 25 anos

Conquista foi reconhecida pela empresa em documento que é referência nacional para atingidos

Brasil de Fato | Cuiritiba (PR) |

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Cerca de 600 pessoas participaram da festa da comunidade de Itá, no município de Mangueirinha
Cerca de 600 pessoas participaram da festa da comunidade de Itá, no município de Mangueirinha - Arquivo MAB

Um bolo de 25 metros foi feito para comemorar o aniversário do reassentamento de Itá 1, no município de Mangueirinha, sudoeste do Paraná. Cada metro do doce representa um ano do reassentamento conquistado pelos atingidos da Usina Hidrelétrica Itá, localizada na bacia do Rio Uruguai, divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Foram 48 famílias transferidas e, de acordo com a dissertação de mestrado de Idiane Radaelli, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), o reassentamento de Itá foi o terceiro do Brasil. Outras 824 famílias, também atingidas pela usina, foram realocadas em oito municípios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Silvana Tubin tinha cinco anos e morava em Concórdia, interior catarinense, quando precisou mudar de cidade com os pais e os quatro irmãos. “Uma imagem que guardo de quando era criança é da nossa casa sendo queimada na minha frente e nós dentro do ônibus e nossos pais terminando de carregar a mudança para ir para Mangueirinha”, conta. Ela também é integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e critica a postura de descaso e violência das empresas. “Eles [da Eletrosul] não se importavam com o que as crianças iam ver, simplesmente iam tacando fogo, destruindo as casas”, lembra. 

O enfrentamento das famílias atingidas pela Usina de Itá foi um dos embriões do MAB. Rodrigo Zancanaro, da coordenação do movimento, destaca o processo coletivo e a autogestão na construção do reassentamento. “Foram as próprias famílias que construíram as casas através de mutirão. Não foi a empresa ‘dando’ a casa e a pessoa sendo obrigado a aceitar aquele formato”. Ele também destaca a importância para a saúde mental, como uma forma de criar um novo pertencimento nas famílias que foram retiradas dos seus lugares de origem.

Ausência de política públicas
Além dos 25 anos de reassentamento, também foram celebrados os 30 anos do acordo assinado entre a Eletrosul e os moradores, na época representados pelo Comissão Regional dos Atingidos por Barragens (CRAB). Em outubro de 1987, o documento assegurou que nenhuma obra seria realizada “dentro dos rios sem prévia indenização ou reassentamento dos atingidos”. 

O acordo é referência nacional para outras famílias atingidas por barragens, já que não existe uma política pública para estes casos. Zancanaro critica o Estado por não estabelecer quais os compromissos que as empresas que constroem hidrelétricas devem ter com a população local. “Até hoje quem determina o direito da família atingida é a empresa, ou seja, a empresa constrói usina, expropria terras, gera milhões de riqueza para si e diz qual será a reparação da família”, afirma. Para ele, a reivindicação coletiva é fator decisivo para que haja reparação.

Novas usinas no Paraná
De acordo com o levantamento da Frente Parlamentar em Defesa dos Atingidos por Barragens, coordenada pelo deputado estadual Tadeu Veneri (PT), o Paraná possui o segundo maior parque de geração de energia hidrelétrica do Brasil, atrás apenas de São Paulo, e  mais de vinte usinas construídas.

O MAB estima cerca de duas mil famílias reassentadas no Paraná e alerta que o número de atingidos por barragens pode aumentar muito nos próximos anos pela quantidade de novas hidrelétricas. “Só na bacia do rio Chopim, por exemplo, tem doze projetos de barragem”, informa Rodrigo Zancanaro. O movimento levantou dados de outros 16 projetos na bacia do rio Piquiri, 20 na bacia do Rio Ivaí, 8 na bacia do rio Ribeira, 6 na bacia do rio Iratim e 5 na bacia do rio Tibagi, além de outras construções em pequenos rios do Paraná.


 

Edição: Franciele Petry Schramm