Música

Opinião | Aos 40 anos de “Todos os Sentidos”, de Belchior

O quarto álbum de estúdio, cujas composições mais conhecidas são “Divina Comédia Humana” e “Brincando Com a Vida”

Brasil de Fato | Recife (PE) |
"Nesse disco, o poeta costura a vida nua e crua"
"Nesse disco, o poeta costura a vida nua e crua" - Arquivo

Em 2016, quase sete anos após o não-desaparecimento de Belchior, um sentimento profundo se fez presente nos corações que comemoram as quatro décadas do álbum “Alucinação”. Era sentimento rasgado e delicado. Aquilo significava, por um lado, a celebração artística da vivacidade da música do poeta amante Drummond; e por outro, as composições contidas no disco soavam como desabafo e reação à situação nacional.

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O Golpe de Estado, encaminhado naqueles instantes, parecia caber por inteiro em “Como o diabo gosta” ou “Como nossos pais”. Cabia, de fato. Cabia tão quanto o suspiro inspirador de “Velha roupa colorida” ou “Antes do fim”, ambas encorajadoras, destemidas, fonte mística dos delírios. Conseguimos tornar o “Alucinação” mais atemporal do que já era, numa meta-síntese que desejava, franca e acertadamente, um #ForaTemer e um #VoltaBelchior.

Recuperar essa memória possui como intenção, na verdade, referenciar um sequencial presente de Belchior. 2018 é a vez dos 40 anos de “Todos os sentidos”, o quarto álbum de estúdio do compositor de Sobral (CE), cujas composições mais conhecidas são, certamente, “Divina Comédia Humana” e “Brincando Com a Vida”. Nesse disco, o poeta costura a vida nua e crua. Nua em todos os sentidos. Crua em todos os sentidos. Um verdadeiro “fazer cantar um canto de amar”, conjugação penetrante que mescla desejo, paixão, amor e a sensualidade dos que têm na felicidade uma arma quente.

As letras falam em libertar a alma e o espírito. Referenciam as coisas que podem ser e ainda não são. “Todos os sentidos”, no auge de seu fulgor desejoso pela aurora, escolhe a vida como namorada e anuncia que “é caminhando que se faz o caminho”. Um verdadeiro presságio libertário, cujo cenário é o luar do Sertão e bandeiras agitadas. Merece, até mesmo “Na hora do almoço”, a gentileza da audição. E noutras horas, de tiro no coração, merece ainda a mistura aos demais sentidos: tato, visão, olfato. “Todos os sentidos” devem ser, verdadeiramente, todos os sentidos ou coisa parecida com um Bel-prazer.

Gracias, Bel!

* Lucas Bezerra é militante do Levante Popular da Juventude e mestrando em Serviço Social pela UFPE

Edição: Monyse Ravena