Privatização

Sob protestos de metroviários, Grupo CCR vence leilão de concessão do Metrô

Uma das principais financiadores das campanhas de Geraldo Alckmin, empresa ficará responsável pelas linhas 5 e 17

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Metroviários e demais movimentos populares e sindicatos protestam contra a privatização do Metrô, em frente à Bolsa de Valores em São Paulo
Metroviários e demais movimentos populares e sindicatos protestam contra a privatização do Metrô, em frente à Bolsa de Valores em São Paulo - Júlia Dolce

O Grupo CCR, um dos principais financiadores da campanha do governador Geraldo Alckmin em 2014, acaba de vencer o leilão de concessão das linhas 5-Lilás e 17-Ouro do Metrô de São Paulo, sob protesto organizado pelo Sindicato dos Metroviários da capital. O leilão aconteceu no início da tarde desta sexta-feira, dia 19, na B3, Bolsa de Valores localizada na zona central da cidade. O consórcio ofereceu R$ 553,880 milhões pela outorga fixa das linhas, um ágio de 185% em relação ao valor mínimo estipulado para a disputa, de R$ 194,343 milhões.

Após realizarem uma paralisação que durou todo o dia de ontem e afetou quatro milhões de usuários do Metrô, os metroviários, em conjunto com outros movimentos populares e sindicatos, se reuniram em frente à Bolsa de Valores desde às 9h. Os manifestantes denunciavam o impacto negativo da privatização para os usuários e para o Estado, além dos interesses de Alckmin com a licitação.

De acordo com o Coordenador Geral do Sindicato dos Metroviários, Wagner Fajardo, a entrega das linhas do Metrô à iniciativa privada leva ao aumento da tarifa e à queda na qualidade do serviço ofertado.

"O Estado não vai dar conta de pagar e subsidiar as tarifas garantidas no contrato, então o valor vai aumentar. Além disso, a população paga porque o interesse da empresa privada é o lucro. Por exemplo, na linha 4-Amarela é muito comum a interrupção do serviço aos finais de semana, segundo a empresa, para fazer manutenção. Então o compromisso deles não é com o transporte, se for mais barato fazer a manutenção no final de semana e parar a linha, eles vão interromper", afirmou.

A linha 4-Amarela, única privatizada em São Paulo até o momento, também é administrada pela CCR. A empresa, uma unificação das ações dos grupos Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido, possui participação em diversos outros consórcios do setor de transportes pelo Brasil. Nas campanhas eleitorais de 2010, as empresas doaram mais de R$ 24 milhões ao caixa nacional do Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB). Já nas eleições de 2014, a Andrade Gutierrez doou R$ 29,9 milhões ao partido.

Na tarde de ontem, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) acatou uma liminar expedida pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), para que houvesse a suspensão do leilão. No entanto, a liminar foi derrubada pelo presidente do TJ-SP, o desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças, ainda na noite de ontem. De acordo com a vereadora Sâmia Bonfim (PSOL), uma das responsáveis pela liminar, a decisão ocorreu logo após um encontro entre o desembargador e Alckmin, e expõe os interesses políticos da concessão.

"Sempre em ano de eleição o Alckmin tem essa promessa de que vai abrir novas estações, e é muito provável que isso se concretize mesmo esse ano, para servir como exemplo e modelo do que ele quer implementar em todo o Estado. Ele precisava dessa relação com a CCR logo no início do ano para garantir que o seu plano econômico e político sejam efetivados. Isso revela a forma como a política é constituída no Brasil: alguns setores da iniciativa privada dominam aquilo que deveria ser considerado um direito. Mais do que isso, é a população pagando R$ 4,00 para ir diretamente para os bolsos da Camargo Côrrea", afirmou.

Um dos principais presidenciáveis das eleições deste ano, Alckmin prometeu a inauguração de 19 estações do Metrô em São Paulo neste ano. A Linha 5-Lilás foi construída inteiramente com dinheiro público, mas, como denunciavam os presentes na manifestação, será vendida por um valor bem mais baixo do que ela vale. É o que explica Bonfim.

"Nos últimos quatro anos o Metrô teve um lucro de R$ 7 bilhões. O valor mínimo que foi estipulado para o leilão não chega nem a 3% desse valor. Estima-se que em aproximadamente 7 meses é possível reverter o valor do investimento, isso sem falar no lucro. Então na verdade é uma entrega completa do patrimônio do Estado para a CCR", denunciou a vereadora.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque