Rio de Janeiro

EDUCAÇÃO

Cursinho do Cerro Corá é porta de entrada para universidades públicas, no Rio

Pré-vestibular popular ajuda alunos de baixa renda a ingressar em universidades consagradas como a UERJ

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

Ouça o áudio:

Da turma de 2017 do Pré-vestibular Popular do Cerro Corá, pelo menos quatro serão universitários em 2018
Da turma de 2017 do Pré-vestibular Popular do Cerro Corá, pelo menos quatro serão universitários em 2018 - Divulgação

Muitos estudantes têm problemas para conseguir ajuda na hora de enfrentar o vestibular e esbarram no alto custo dos cursinhos. Neste momento, os cursos populares e comunitários são a grande diferença entre passar ou não nas provas. O pré-vestibular popular do Cerro Corá, criado em 2016 por moradores jovens da comunidade, localizada no Cosme Velho, na Zona Sul do Rio de Janeiro, é um desses exemplos. 

Somente neste ano foram quatro aprovados no vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para os cursos de Pedagogia, História e Biologia. "A gente começou há dois anos, com 25 alunos, e chegamos ao fim do ano com seis alunos. Desses, dois passaram para a UERJ, eu fui um deles, e outro aluno passou para Letras na UFRJ”, explicou o coordenador do pré-vestibular Janderson Dias, de 28 anos. 

Ana Cristina Ferreira, de 41 anos, foi uma das alunas do cursinho aprovada no vestibular deste ano. Como mais nova estudante de Pedagogia da UERJ, ela comemora a conquista. "Depois que eu me inscrevi no pré foi que tudo mudou. Eu comecei a me dedicar mais, eu comecei a ler, coisa que eu não tenho hábito de leitura, tive que ler quatro livros para ler provas e minha vida ano passado foi muito corrida, cheia de provas e estudo”, contou.

Ela, que já foi professora de alfabetização e tinha parado de estudar há 10 anos quando concluiu o ensino médio, acrescenta que não foi fácil. "Teve uma época que eu fiquei triste, com essa crise, eu fiquei desempregada, e dando aula em casa eu perdi muitos alunos. Mas mesmo assim eu não deixei de ir para as aulas, eu tinha certeza, exatamente do que eu queria, porque a única coisa que eu tinha vontade de fazer era ir para as aulas", relembra.

Para Ana Cristina e para Janderson, estudar sempre foi um sonho. "Meu sonho era cursar História e ainda mais na UERJ, vendo o símbolo que ela é. A primeira universidade a adotar o sistema de cotas, é uma das melhores universidades do país, então assim, estou muito feliz", contou o hoje coordenador do cursinho.

SITUAÇÃO DA UERJ

Ao mesmo tempo em que é sonho para muitos cariocas, a UERJ tem vivido momentos de pesadelo nos últimos anos, enfrentando uma de suas piores crises. Na última semana, a comunidade acadêmica pode comemorar a volta às aulas. Entretanto, o clima de volta às aulas na UERJ ainda é de apreensão com o futuro, como explica o diretor da Associação dos Docentes da universidade (Asduerj), Guilherme Abelha.

"Concretamente a operação da universidade ainda passa por muitas dificuldades", afirma. Ele cita problemas de instalação elétrica, lâmpadas queimadas e a falta de insumos para os reparos dessas questões. "Por outro lado, a gente teve a aprovação de uma emenda constitucional, a PEC 47, aqui no estado do Rio, que possibilita o envio dos recursos em duodécimo", relembra Abelha.

A emenda foi aprovada no final de dezembro e tem como objetivo dar autonomia para que as universidades estaduais gerenciem parte de seus recursos e não precisem mais depender das decisões dos governos estaduais. Porém, há uma preocupação de que o governo do Estado esteja protelando a transferência desses recursos para a universidade. "Não vamos deixar essa lei caducar. É uma emenda constitucional, o governador não tem gerência sobre ela, ele tem que simplesmente cumprir", acrescenta o professor.

Ana Cristina, que já trabalhou como secretária contratada na universidade e agora inicia o ano letivo como estudante, acredita que a situação vai mudar. "É como o pessoal fala: UERJ resiste. Acho que a UERJ é muito forte e nós todos juntos vamos conseguir", conclui.

Edição: Mariana Pitasse