São Paulo

Prefeitura fecha mais um hotel social na Cracolândia em São Paulo

Os moradores do local foram levados para Centros de Testagem e Atendimento (CTA) e outros complexos do programa de Dória

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O Hotel Impacto, que foi fechado nesta semana, estava sem equipe desde agosto do ano passado
O Hotel Impacto, que foi fechado nesta semana, estava sem equipe desde agosto do ano passado - Pedro Ribeiro Nogueira

Na manhã desta quinta-feira (1), a Prefeitura de São Paulo (SP) realizou o despejo de mais um hotel social do programa De Braços Abertos, criado em 2014 pela gestão de Fernando Haddad (PT), para atender com trabalho, moradia e assistência social os dependentes químicos da região da Luz, também conhecida como “Cracolândia”. O Hotel Impacto, alvo da operação, estava sem equipe desde agosto do ano passado. Na última semana, o Hotel Santa Maria, na Alameda Barão de Limeira, também foi fechado e teve sua equipe demitida.

Os moradores do local foram levados para Centros de Testagem e Atendimento (CTA) ou outros grandes complexos do programa Redenção, de autoria da Prefeitura de João Dória (PSDB). Muitos apenas deixaram o prédio, revoltados ou chorando, e não seguiram o encaminhamento da Prefeitura. Maria Aparecida dos Santos e Paulo* afirmaram ter sido surpreendidos com o despejo. Eles foram encaminhados para algum dos CTAs, mas voltaram uma hora depois, pois não havia vaga no local. A situação deles só se resolveu horas mais tarde. “A gente é tratado que nem cachorro”, se queixou Maria.

“Eu tinha meu barraco, eles desmontaram e me trouxeram para cá. Agora eu não quero voltar para a rua. Não quero morar em albergue, aqui eu tinha meu lugar, daqui eu saia com a minha carroça todo dia para ter meu ganha pão”, protestou Paulo.

Ainda restam 5 hotéis sociais na cidade que atendem os beneficiários do programa De Braços Abertos: três no Centro, um na Freguesia do Ó e outro em Heliópolis. Pautado pela metodologia da Redução de Danos, a aposta do projeto é que, com os hotéis, os usuários consigam estruturar sua vida, guardar seus pertences e partir para o trabalho, diminuindo o uso da droga e garantindo uma via mais digna.  

Ativistas criticam a medida do prefeito Dória pela falta de transparência e afirmam que em outros hotéis, onde as comunidades são mais organizadas e trabalham em conjunto com a equipe interdisciplinar, os resultados podem ser mais drásticos. Apontam que há uma falta de continuidade nos projetos da Prefeitura e criticam a lógica de abstinência e de “grandes complexos” da atual gestão. “CTA nada mais é que o velho albergue”, aponta Raphael Escobar, redutor de danos e ativista da A Craco Resiste. “É uma pena porque nos hotéis essas pessoas conseguem organizar sua vida, ter suas coisas. Os albergues são disciplinares, meritocráticos e as pessoas toda noite têm que lutar pelo seu direito de dormir”.

Ao todo, 38 pessoas foram removidas do Hotel Impacto e a previsão é que novos hotéis sejam desmontados até 31 de março.

*Paulo preferiu não informar o sobrenome à reportagem.  

Edição: Nina Fideles